Esta quarta-feira, dia 3 de dezembro, assinala-se o Dia Internacional da Pessoa com Deficiência. E este poderia ser mais um texto onde falamos no facto de, treze anos depois da implementação deste dia, as pessoas continuarem a ser menosprezadas pelas suas limitações. Também o é, é verdade, mas é essecialmente um trabalho em que jovens, atletas e campeões nos provam que não são diferentes... São especiais. E é no desporto que o provam.
Um campeão na água
João Vaz completa este mês 22 anos. Pratica natação “há cerca de seis anos”, uma escolha que se deu de “forma natural”, porque, como nos explica o pai, sempre teve uma grande apetência pela água, meio onde se sentia à vontade”.
Ingressou em 2008 nas piscinas do GES Loures, na Portela, e um ano depois, a conselho do treinador, rumou ao Sporting. Desde então, “foi sempre a crescer” e já conta no seu currículo os títulos de vice-campeão e campeão nacional, campeão europeu e, no passado mês, fez história ao sagrar-se vice-campeão do mundo, no México.
Tudo isto poderia ser algo natural, mas ganha ainda maior relevo porque João não é um atleta qualquer. O nadador tem Síndrome de Down e é no desporto adaptado que ‘dá cartas’ que se refletem também na sua vida pessoal.
“A natação é aquilo que ele faz na vida onde tem objetivos a atingir e o obriga a ter disciplina, esforço, dedicação. Depois consegue resultados e medalhas o que é bom em termos de auto-estima e objetivos de vida”, refere Francisco Vaz, salientando que o desporto tem sido “uma mais valia em todas as competências que o João foi adquirindo: auto-estima, independência, autonomia e relacionamento”.
Adaptar a uma nova condição
Se há quem já nasça ‘especial’. Há outros que, pela efeméride do destino, sejam obrigados a viver uma nova realidade. A história de Jorge Pina, o pugilista português que perdeu a visão quando se preparava para lutar pelo título de campeão do Mundo, já é conhecida de grande parte dos portugueses. A sua nova condição obrigou-o a mudar as suas prioridades, mas para Jorge Pina, que sempre esteve habituado a combates, não estava ainda na hora de baixar os braços e decidiu enfrentar a sua nova luta de cabeça erguida.
“Nunca pensei em abandonar o desporto. Foi este que praticamente me educou e me ensinou tudo em termos de força, educação e responsabilidade”, diz. Por isso, “mal saiu do hospital foi à procura de um desporto. “Não valia a pena perder tempo. Ia ficar a lamentar-me, a queixar-me e a arranjar mais problemas a minha cabeça . Foi limpar as lágrimas, curar as feridas e começar a correr”, refere o atleta que se dedica agora ao atletismo e se prepara para participar nos Jogos de Rio de Janeiro em 2016.
A “partir pedra” pela mudança de mentalidades
O desporto adaptado é apenas um dos exemplos que nos ajudam a perceber a forma como, ainda hoje, as pessoas portadoras de deficiência são muitas vezes esquecidas.
Para Rui Gama, treinador da equipa de natação adaptada do Sporting, é precisamente “o partir pedra” que o motiva no seu trabalho. “Andamos no desporto adaptado todos os anos com a esperança que isto melhore e que estes atletas comecem a ser vistos com a verdadeira valia que têm”, explica, referindo que os resultados que apresentam são a esperança para que se mudem “alguns preconceitos e conceitos”.
Apesar das diferenças no trabalho e no relacionamento com estas pessoas, porque são muito “mais puras” na forma como mostram os sentimentos, o técnico não hesita em afirmar que “o João está ao nível dos melhores atletas do mundo, pois é competitivo e não tem limites na sua capacidade de sacrifício”.
Cientes do que são capazes, atletas, familiares e treinadores, são muitas vezes as vozes de quem como o João não tem nas palavras a sua melhor arma de comunicação. Defendem, por isso, mais apoios e maior reconhecimento.
“Costumo dizer, que estas pessoas são focos de humanidade. Nós todos temos a ganhar se os apoiarmos e desenvolvermos a sua autonomia”, remata Francisco Vaz, salientando que este apoio é sobretudo benéfico para "o futuro da sociedade em geral".