Campeões especiais que "partem pedra" contra preconceitos

No Dia do Portador de Deficiência damos-lhe a conhecer a história daqueles que, apesar das suas condições especiais, nos provam que é possível serem campeões...no desporto e na vida. É através das suas vitórias desportivas que ganham maior visibilidade e dão a cara pelos muitos que sendo diferentes são também vencedores na sua luta diária contra a indiferença.

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© Global Imagens e Joovaz.blogspot.com

Andrea Pinto
03/12/2014 07:00 ‧ 03/12/2014 por Andrea Pinto

País

Deficiência

Esta quarta-feira, dia 3 de dezembro, assinala-se o Dia Internacional da Pessoa com Deficiência. E este poderia ser mais um texto onde falamos no facto de, treze anos depois da implementação deste dia, as pessoas continuarem a ser menosprezadas pelas suas limitações. Também o é, é verdade, mas é essecialmente um trabalho em que jovens, atletas e campeões nos provam que não são diferentes... São especiais. E é no desporto que o provam. 

Um campeão na água 

João Vaz completa este mês 22 anos. Pratica natação “há cerca de seis anos”, uma escolha que se deu de “forma natural”, porque, como nos explica o pai, sempre teve uma grande apetência pela água, meio onde se sentia à vontade”. 

Ingressou em 2008 nas piscinas do GES Loures, na Portela, e um ano depois, a conselho do treinador, rumou ao Sporting. Desde então, “foi sempre a crescer” e já conta no seu currículo os títulos de vice-campeão e campeão nacional, campeão europeu e, no passado mês, fez história ao sagrar-se vice-campeão do mundo, no México. 

Tudo isto poderia ser algo natural, mas ganha ainda maior relevo porque João não é um atleta qualquer. O nadador tem Síndrome de Down e é no desporto adaptado que ‘dá cartas’ que se refletem também na sua vida pessoal.  

“A natação é aquilo que ele faz na vida onde tem objetivos a atingir e o obriga a ter disciplina, esforço, dedicação. Depois consegue resultados e medalhas o que é bom em termos de auto-estima e objetivos de vida”, refere Francisco Vaz, salientando que o desporto tem sido “uma mais valia em todas as competências que o João foi adquirindo: auto-estima, independência, autonomia e relacionamento”.

Adaptar a uma nova condição

Se há quem já nasça ‘especial’. Há outros que, pela efeméride do destino, sejam obrigados a viver uma nova realidade. A história de Jorge Pina, o pugilista português que perdeu a visão quando se preparava para lutar pelo título de campeão do Mundo, já é conhecida de grande parte  dos portugueses. A sua nova condição obrigou-o a mudar as suas prioridades, mas para Jorge Pina, que sempre esteve habituado a combates, não estava ainda na hora de baixar os braços e decidiu enfrentar a sua nova luta de cabeça erguida.

“Nunca pensei em abandonar o desporto. Foi este que praticamente me educou e me ensinou tudo em termos de força, educação e responsabilidade”, diz. Por isso, “mal saiu do hospital foi à procura de um desporto. “Não valia a pena perder tempo. Ia ficar a lamentar-me,  a queixar-me e a arranjar mais problemas a minha cabeça . Foi limpar as lágrimas, curar as feridas e começar a correr”, refere o atleta que se dedica agora ao atletismo e se prepara para participar nos Jogos de Rio de Janeiro em 2016. 

A “partir pedra” pela mudança de mentalidades

O desporto adaptado é apenas um dos exemplos que nos ajudam a perceber a forma como, ainda hoje, as pessoas portadoras de deficiência são muitas vezes esquecidas. 

Para Rui Gama, treinador da equipa de natação adaptada do Sporting, é precisamente “o partir pedra” que o motiva no seu trabalho. “Andamos no desporto adaptado todos os anos com a  esperança que isto melhore e que estes atletas comecem a ser vistos com a verdadeira valia que têm”, explica, referindo que os resultados que apresentam são a esperança para que se mudem “alguns preconceitos e conceitos”. 

Apesar das diferenças no trabalho e no relacionamento com estas pessoas, porque são muito “mais puras” na forma como mostram os sentimentos, o técnico não hesita em afirmar que “o João está ao nível dos melhores atletas do mundo, pois é competitivo e não tem limites na sua capacidade de sacrifício”.

Cientes do que são capazes, atletas, familiares e treinadores, são muitas vezes as vozes de quem como o João não tem nas palavras a sua melhor arma de comunicação. Defendem, por isso, mais apoios e maior reconhecimento. 

 “Costumo  dizer, que estas pessoas são focos de humanidade. Nós todos temos a ganhar se os apoiarmos e desenvolvermos a sua autonomia”, remata Francisco Vaz, salientando que este apoio é sobretudo benéfico para "o futuro da sociedade em geral".

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