"Levar cinco ou dez mil euros num envelope é algo muito fininho"

Em entrevista ao jornal i, no dia em que apresentou o recurso da decisão do juiz Carlos Alexandre, o advogado de defesa de João Perna, Ricardo Candeias, falou sobre as dúvidas que pairam no ar sobre o transporte de dinheiro por parte do seu cliente e o que levou a voltar para casa.

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Notícias Ao Minuto
27/12/2014 07:40 ‧ 27/12/2014 por Notícias Ao Minuto

País

Ricardo Candeias

O advogado de João Perna, Ricardo Candeias falou em exclusivo ao jornal i e começou por explicar as viagens feitas por João Perna para o estrangeiro. “Confirmo que houve saídas para fora de Portugal, mas algumas podem ter que ver com questões não relacionadas com esse processo. Quando João Araújo [advogado de José Sócrates] disse que ele não foi a Paris e eu disse que João Perna saiu do país várias vezes, o que pode estar a acontecer é o advogado do senhor engenheiro estar a falar apenas e só do processo e eu não…”, afirma.

“Respondi que tinha havido várias viagens para fora do país porque achei que teria de ter aqui uma posição de alguma honestidade intelectual no meio disto tudo. Saiu sim!”, frisa.

Sobre as funções que João Perna desempenhava ao serviço do antigo primeiro-ministro, Ricardo Candeias indica que “como motorista fazia diversas coisas. João Perna transportava pessoas e fazia recados, portanto…”.

“Falando em abstrato, levar dois, três, cinco ou dez mil euros num envelope é uma coisa muito fininha, se for em notas de 500 euros, as pessoas é que não têm noção disso. É possível que se transporte uma coisa a pensar que é outra”, acrescenta.

“João Perna cumpria escrupulosamente aquilo que lhe pediam. E se lhe entregavam o que quer que fosse, embrulhos, pacotes, malas – e não estou a dizer que ele transportava, mas se transportasse – ele nunca iria abrir o que quer que fosse”, continua.

Quando noticiado que João Perna transportava uma arma nas viagens feitas com o ex-primeiro-ministro, o advogado afirma que nunca foi transportada qualquer arma.

Ainda sobre o silêncio ordenado por José Sócrates a João Perna, o advogado diz desconhecer esta situação. “Não nunca, que eu saiba isso não foi dito ao meu cliente”, garante.

João Perna quando foi preso e transportado para o Estabelecimento Prisional de Évora, partilhou a cela com um dos arguidos, Carlos Santos Silva, um grande amigo de José Sócrates, que está indiciado de corrupção. Sobre alguma pressão que possa ter existido, o advogado alega que não se apercebeu de qualquer pressão, mas que não é uma situação normal.

A ‘vitória’ foi assim que Ricardo Candeias descreveu a alteração da medida de coação e sobre o novo recurso apresentado esta sexta-feira, explica que “o que houve de novo foi um conjunto de factos ocorridos que foram dados a conhecer ao Ministério Público e ao Tribunal e foram esses factos novos que levaram a que ele visse alterada a medida de coação”.

“Factos que levaram o tribunal a entender que havia uma diminuição de perigo de fuga e de perturbação da prova”, disse.

As conversas entre João Perna e José Sócrates eram frequentes e a última “terá sido na quinta-feira em que ele foi detido, um dia antes de o engenheiro ser detido”.

Relativamente à detenção, Ricardo Candeias demonstra que o seu constituinte está chateado porque isto só está a acontecer devido a uma “experiência comum de alguém que está nesta situação por causa da antiga entidade patronal fique aborrecido”.

“Ele passou por tudo isto e no início era visto como um ‘bandido’”, remata.

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