As cartas trocadas entre Mário Soares e José Sócrates

A 26 de novembro, Mário Soares dirigiu-se ao Estabelecimento Prisional de Évora, onde o antigo primeiro-ministro se encontra detido. Desde então, a troca de cartas entre os dois ex-governantes tem sido constante. O Jornal de Notícias teve acesso ao teor da correspondência onde se lê uma troca de elogios constante.

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Notícias Ao Minuto
29/12/2014 09:47 ‧ 29/12/2014 por Notícias Ao Minuto

País

Prisão

Mário Soares celebrou os seus 90 anos a 7 de dezembro e José Sócrates não deixou de dar os parabéns ao ex-presidente da República através de carta. O Jornal de Notícias teve acesso à correspondência onde lê-se: "Parabéns, camarada!".

Mas a carta não se ficou por elogios, Sócrates falou sobre o que sentiu quando soube que ia ser preso e como se sente atualmente.

O antigo primeiro-ministro reporta-se à noite em que foi preso de “noite abracadabrante em Paris” e ao momento em que, ao ter conhecimento da “violência e terror” a que estavam a ser sujeitos os filhos, familiares e amigos, diz ter percebido que infâmias e humilhações pudessem estar a ser preparadas contra ele e, mesmo assim, decidiu regressar a Portugal para se defender.

“Depois, de coração limpo, avancei para lhes fazer frente. Para lhes fazer frente. Ainda têm o desplante de falar em ‘perigo de fuga’. ‘Perigo de fuga’?! Mas que gente é esta, Mário Soares?”, questiona Sócrates.

Relativamente ao dia de 26 de novembro, quando Mário Soares o foi visitar ao Estabelecimento Prisional de Évora, Sócrates afirma: “No momento em que o vislumbrei ao longe da sala de visitas e o vi, a si Mário Soares, sozinho, à minha espera para me abraçar, pequeno ponto que concentra toda a grandeza de que o ser humano é capaz, comovi-me interiormente com o meu próprio sentimento”.

Em resposta, Mário Soares enviou uma carta a 23 de dezembro, pouco antes do Natal, ao socialista onde o elogiou. “Sabe como o admiro pela sua honradez, valentia e amizade dos seus amigos”, garante.

“Prender-se, sem qualquer julgamento prévio, alguém que veio voluntariamente para o seu país, sabendo que ia ser preso, significa um gesto que, se houvesse justiça, não podia ter qualquer razão de ser”, continua.

O antigo governante ainda tece duras críticas ao juiz Carlos Alexandre. "Sem excluir o juiz que o tem obrigado a ser tratado vergonhosamente. Tem plena consciência que não tem nada que o possa atingir gravemente, Por isso está tão firme e confiante quanto ao futuro”, remata.

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