“Em Portugal quem manda não são os políticos mas as sociedades de advogados”. Esta é a perceção de António Lobo Antunes, dada em entrevista a Fátima Campos Ferreira, na antena da RTP. O escritor comentou a atualidade política e sublinhou que o país está “miseravelmente pobre” e que por isso tem a certeza que “este Governo vai mudar”.
“É perfeitamente anedótico o português que falam, a começar pelo primeiro-ministro, é uma vergonha, é uma vergonha. A gente pode fazer todas as críticas a Salazar, mas era muito mais inteligente do que os primeiros-ministros que houve a seguir à revolução”, criticou.
Lobo Antunes ressalvou, no entanto, que não vê Salazar como um exemplo. “O homem só me fez mal, foi por causa dele que fui para a guerra. (…) Eu tenho uma desconfiança geral em relação aos políticos”, sustentou.
Sobre a doença contra a qual ainda luta [teve dois cancros de pulmão], Lobo Antunes não se queixa. “Há uma sala no [hospital] Santa Maria que está cheia de gente de todas as idades. Tem raparigas de 18 anos com cabeleiras postiças. Mais uma vez me voltou a surpreender a extraordinária dignidade das pessoas. Não havia uma queixa, não havia lágrimas”, descreveu.
“Não conseguia viver com uma mulher que não fosse portuguesa”, disse. O escritor referiu que tem muito amor pela língua portuguesa e que não seria capaz de conviver com outra, dizendo ainda que adora os costumes portugueses, as mulheres que se “vestem triunfalmente mal”, as “comidas gordurosas”, etc.
Quando questionado sobre se a cultura é a base disto tudo, Lobo Antunes esclareceu: “Saber fazer pastéis de bacalhau é tão importante como ter lido Os Lusíadas, é uma forma de cultura. Nos temos tendência a julgar que cultura é ter lido muitos livros, é ter muita informação sobre isto e aquilo”.