Paula Lourenço, advogada de Carlos Santos Silva e Gonçalo Trindade Ferreira, o empresário e o advogado detidos no âmbito da ‘Operação Marquês’, que também levou à prisão preventiva de José Sócrates, denuncia falhas na forma de atuar por parte do Ministério Público, num texto demolidor publicado no Boletim da Ordem dos Advogados.
A informação foi revelada no 'Jornal da Noite' da SIC, que dá conta do pormenor de as denúncias serem feitas sempre com base num "suponhamos", no texto intitulado ‘Não sou Charlie, sou advogada’.
Do texto, o canal de televisão cita pormenores como “suponhamos que existia um processo em segredo de justiça de que falavam os jornais” e “suponhamos agora que os cidadãos chegam ao aeroporto num proveniente de Paris”, que dificilmente poderão ser considerados coincidências, dado o nível de proximidade com a história dos arguidos que a advogada Paula Lourenço representa.
Entre as denúncias feitas, a advogada acusa o Ministério Público de ter sequestrado o empresário e o advogado no dia da detenção, escrevendo que foram “revistados e apreendidos” sem que houvesse um mandado, sendo depois sujeitos a um interrogatório sem apoio de advogado, além de revistas ilegais em casa e nos carros.
Neste caso de ficção com semelhanças com a realidade, a advogada sugere também no seu texto que só foram constituídos arguidos já depois de todas as buscas serem feitas e que entre as práticas do Ministério Público se incluem revistas “na presença da mulher, filho de cinco anos e bebé com dois meses, que assistem horrorizados à violência com que despejam gavetas e circulam em passo militar pela casa”. Além de, numa primeira fase, estes putativos arguidos terem estado à espera cinco dias, sem direito a tomar banho, ou a mudar de roupa.
A SIC adianta ainda que a advogada pergunta a dada altura: “Se é legítimo a defesa [dos arguidos] ficar refém do segredo de Justiça”, numa alusão às fugas de informação frequentes que têm surgido sobre o processo que envolve o ex-primeiro-ministro José Sócrates.