O inspetor da Polícia Judiciária de Setúbal, João Sousa, está detido preventivamente na prisão de Évora. O vizinho de José Sócrates está acusado dos crimes de corrupção, fraude fiscal, peculato, denegação de justiça, prevaricação, violação do segredo de funcionário, associação criminosa e branqueamento de capitais.
No blogue que escreve, intitulado ‘Dos Dois Lados das Grades’, João Sousa dirige duras críticas à instituição e até revela conversas privadas que teve com a sua antiga diretora, Maria Alice Fernandes que entretanto já se reformou.
Ao Diário de Notícias, a direção nacional daquela força policial revela que está a analisar, na “perspetiva jurídica”, o blogue do inspetor e, caso haja indícios de violação do dever de funcionário irá processar João Sousa.
Contactada pela mesma publicação, Maria Alice Fernandes, que no blogue é apelidada de “Senhora” e “Madame Tsunami”, admitiu que também pondera vir a processar o inspetor detido preventivamente.
“Pondero processar civil e criminalmente João de Sousa”, referiu a ex-diretora da PJ de Setúbal. Em causa, o facto de João Sousa ter revelado no blogue conversas que teve com a sua superior hierárquica sobre processos como o Freeport e o Meco.
O blogue, refere o Diário de Notícias, é atualizado todos os sábados por Carla Sousa, a mulher do inspetor, com textos que o próprio lhe envia por correio.
"Esta foi a forma que ele arranjou de dar a conhecer a situação em que está, em prisão preventiva há dez meses, sem sem indícios fortes que o justifiquem", explicou Carla Sousa.
No ‘Dos Dois Lados das Grades’, que começou a escrever em outubro do ano passado são, pelo menos, 30 as referências a José Sócrates. O último texto, datado deste mês, refere-se à questão do segredo de Justiça que o “engenheiro, devido ao seu “peso” na sociedade (conquanto esteja mais magro e tonificado muscularmente, conforme partilhou ontem comigo. Não! Não estamos zangados apesar de eu ter sido muito crítico em relação à sua pessoa!) colocou a temática – violação do segredo de justiça – novamente na praça pública, na ordem do dia”.
Mas não só. João Sousa refere que dá agora por si a “caminhar no pátio da prisão de Évora com o ‘muito elegante e vaidoso Sócrates’ (como a Senhora um dia se referiu ao mesmo)”.
E assegura: “Não defendo, nem acuso José Sócrates, considero que a hagiografia jornalística é tão condenável quanto a omissão pura e simples, muito mais grave que a maledicência ou a campanha difamatória, mas tenho que reconhecer que algo está mal”.