“Ao ver-me de bata, virou-se contra mim. Levei um estaladão, fui contra a parede e desmaiei”. Esta declaração foi dita ao Público por uma médica que, à semelhança do que acontece com muitos profissionais de saúde, sofreu agressões por parte de um paciente.
Ainda que para muitos possa parecer, dada a brutalidade, que casos como este são raros, o certo é que acontecem frequentemente, tanto em hospitais como em centros de saúde. Ou melhor, acontecem de forma cada vez mais frequente.
Em 2013, atestam os dados de um observatório do Direção-Geral da Saúde a que o Público teve acesso, foram reportados 202 casos de violência como este. No ano passado, o número subiu para os 531.
O crescimento foi de 160% e prova que os doentes estão cada vez mais insatisfeitos e frustrados com os cortes que têm sofrido e que afetam os cuidados de saúde que recebem. Associado a isto, está ainda a exaustão que tem afetado médicos e enfermeiros.
Estes últimos são, de resto, os mais expostos a este tipo de fenómenos, por passarem mais tempo em contacto com os utentes. E as agressões não são só físicas, são também verbais.
“Sempre houve violência, mas agora as pessoas estão mais intransigentes. Estão exasperadas e canalizam a frustração para os médicos, enfermeiros, auxiliares”, contou ao Público um clínico, Miguel.
Tal reflete-se no número de inquéritos abertos no Departamento de Investigação e Ação Penal de Lisboa. Em 2013, foram quatro. No ano seguinte, foram 17. Entretanto, metade foram arquivados.