Que a decisão de adotar um filho não deve ser tomada de ânimo leve, é certo e sabido. Que o processo de adoção é complexo também. Mas nem isso parece demover vários portugueses, que se tornam pais e deixam de o ser passados alguns dias.
Nos últimos quatro anos, foram devolvidas 53 crianças a instituições, após terem sido entregues às respetivas famílias. 14 tinham já sido adotadas e 39 estavam em processo de pré-adoção.
Ao Diário de Notícias, Olga Fonseca, da Fundação CEBI, contou os casos que mais a marcaram: um menino que foi ‘devolvido’ porque a mãe o achava pouco inteligente (não sabia completar, por exemplo, um puzzle) e uma menina que tomava risperidona devido a problemas de concentração. Quando leram a bula, os pais constataram que o medicamento era usado também para tratamentos de esquizofrenia. É ainda de referir o caso de uma mãe que considerou que o filho exigia muita atenção e, “porque mudava de roupa todos os dias, no inverno era complicado”.
De entre os vários motivos que levam um menor a ser abandonado uma segunda vez (é assim que se sentem nesta circunstância), prevalecem os divórcios, “as pessoas que têm uma ideia fantasiosa do que é ter um filho” e as situações “em que o jovem se revela uma pessoa diferente do que previam e têm dificuldade em lidar com a situação”, segundo explicou o procurador-geral adjunto do Tribunal da Relação de Évora.
A “má preparação da criança para uma nova família, má preparação dos candidatos ou má adequação criança-família” são outros dos motivos apontados Domingas Fortio, da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa
"Os candidatos são aceites para adoção e podem estar anos à espera. De repente, são informados de que há uma criança disponível e é tudo rápido (cinco dias)”, indica, por sua vez, uma representante da Santa Casa da Misericórdia de Santarém.