O Tribunal da Relação negou o recurso à prisão preventiva de José Sócrates apresentado pela defesa do ex-governante e justificou-o num relatório que coloca em causa a amizade entre o antigo primeiro-ministro e o empresário Carlos Santos Silva.
De acordo com o jornal i, os juizes desembargadores Agostinho Torres e João Carola acreditam existirem fortes indícios da prática dos crimes de que estão indiciados, apesar dos advogados de Sócrates não concordarem com a fundamentação dos mesmos.
No relatório é considerado "completamente inaceitável" a movimentação de milhões associada a uma justificação de amizade e é utilizada uma metáfora esclarecedora para a situação: "Quem cabritos vende e cabras não tem, de algum lado lhe vêm".
"Driríamos, amizade sim, por que não? Mas tanto assim, também não!", frisam os juízes no relatório, lembrando que Carlos Santos Silva é um empresário cujo objetivo é "reproduzir, multiplicar e ter lucros". O que o torna, tendo em conta os empréstimos milionários ao amigo, "um verdadeiro milagre de altruísmo".
O único ponto em que o acordão da relação não concorda com o juíz Carlos Alexandre é no perigo de fuga a curto prazo. Contudo, admitem que poderia acontecer, já que o ex-primeiro-ministro "tem facilidades de deslocação para o estrangeiro" e "excelentes relações políticas em África, e sobretudo, no Brasil e Venezuela".
Quanto ao último ponto, o perigo de manipulação eminente, os dois juizes desembargadores acreditam que a investigação se encontrava "num patamar demasiado importante" para ser colocada em causa. Na justificação a este ponto, o relatório acrescenta ainda que Sócrates escondeu o seu computador pessoal na casa de uma vizinha, tentando dificultar as buscas.