Equipa de astrofísico português observa diretamente exoplaneta

Uma equipa internacional de astrofísicos, liderada pelo português Jorge Martins, observou diretamente, pela primeira vez, um exoplaneta, planeta fora do Sistema Solar, ao detetar o espetro em luz visível da estrela refletido no planeta.

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© Astronomy Photographer of the Year 2014

Lusa
22/04/2015 11:00 ‧ 22/04/2015 por Lusa

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O exoplaneta em causa chama-se 51 Pegasi b e foi descoberto, por outro método, indireto, há 20 anos, na constelação Pegasus, a 50 anos-luz da Terra. Orbita uma estrela semelhante ao Sol, a 51 Pegasi, da qual dista sete milhões de quilómetros, uma distância considerada em astrofísica relativamente próxima.

O astrofísico Jorge Martins, do Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço (IA) e da Universidade do Porto, justificou à Lusa a importância da descoberta com o facto de se tratar de "uma deteção direta do espetro do planeta em luz visível", uma vez que grande parte dos planetas foram descobertos por "métodos indiretos", medindo-se "a influência da presença do planeta na estrela que orbita", atendendo a que, no ótico, a luz de um planeta é muito mais reduzida face à da sua estrela.

Segundo o investigador, ao se detetar "um sinal proveniente diretamente do planeta", é possível "caraterizá-lo com mais detalhe", por exemplo, estimar a sua massa real e a sua inclinação orbital.

No caso do 51 Pegasi b, a equipa de Jorge Martins concluiu que é um planeta um pouco maior do que Júpiter, com cerca de metade da sua massa e cuja órbita apresenta uma inclinação de 81 graus.

"Uma boa analogia é considerar que o planeta é um espelho que orbita a estrela. Dependendo do tamanho do espelho, da sua distância à estrela e da sua composição, iremos receber mais ou menos luz refletida", assinalou o cientista.

O planeta extrassolar 51 Pegasi b, o primeiro a ser confirmado em torno de uma estrela parecida ao Sol, foi descoberto mediante um espetrógrafo que detetou as mudanças regulares na velocidade radial da sua estrela.

O 51 Pegasi b é visto como o modelo dos exoplanetas do tipo Júpiter quente - planetas parecidos com o maior planeta do Sistema Solar, em termos de massa e tamanho, mas com órbitas muito mais próximas das suas estrelas progenitoras.

A observação direta do 51 Pegasi b foi feita com o auxílio do espetrógrafo HARPS, instalado no telescópio de 3,6 metros de diâmetro do Observatório Europeu do Sul, no Chile, e que procura planetas extrassolares.

O espetrógrafo é um instrumento que faz o registo fotográfico de um espetro, que resulta da radiação da luz emitida por um objeto nas várias cores que a constituem. Os espetros apresentam riscas que funcionam como a impressão digital dos elementos que compõem o objeto observado.

A luz branca do Sol, por exemplo, quando decomposta nas suas cores constituintes, forma o arco-íris.

Graças ao método usado pela equipa de Jorge Martins, é possível estimar a refletividade do 51 Pegasi b, uma caraterística que ajuda no estudo da atmosfera e da superfície do planeta.

Atualmente, o método mais utilizado para estudar a atmosfera de um exoplaneta é observar o espetro da sua estrela quando é filtrado pela atmosfera do planeta durante um trânsito.

"Uma aproximação alternativa será observar o sistema quando a estrela passa em frente do planeta, o que dará essencialmente informação sobre a temperatura do exoplaneta", adianta o Observatório Europeu do Sul em comunicado.

De futuro, o grupo de Jorge Martins, que inclui os astrofísicos portugueses Nuno Santos e Pedro Figueira, também do Instituto de Astrofísica, pretende aplicar a técnica a outros planetas extrassolares, e usá-la com telescópios de maior alcance e mais precisos, para os caraterizar melhor e descobrir planetas mais pequenos e semelhantes à Terra.

Os resultados da investigação foram publicados na revista Astronomy and Astrophysics.

Jorge Martins está a fazer o doutoramento no Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço, na Faculdade de Ciências da Universidade do Porto e no Observatório Europeu do Sul, organização da qual Portugal faz parte.

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