Em entrevista ao jornal i, uma das maiores especialistas nos hábitos dos jovens em Portugal, Margarida Gaspar de Matos falou sobre o uso da internet pelos mais jovens, indicando que existe um exagero por parte dos pais em termos de preocupação, considerando que o real problema está na falta de esperança e não nas novas tecnologias.
“A internet veio para ficar. Não vale a pena pensar que vai passar, que é evitável”, começa por dizer. Sobre as novas tecnologias e a dependência dos jovens face a elas, a especialista explica que esta “tem critérios que não são apenas usar nem usar de mais. Ser dependente é viver em função de".
"O que temos concluído é que não há assim tantos jovens com sinais de dependência da internet. A dependência tem a ver com alguns tipos de personalidade e nem toda a gente tem propensão para isso. Os pais, mais que catastrofizarem a internet, devem monitorizar os jovens e acompanhá-los”, observa.
Relativamente aos sinais, a coordenadora de inquéritos explica que têm que ver com o facto de se enfiarem no "no quarto, saltar refeições, não querer falar com ninguém, mas não se durar uma semana ou duas”.
Quando questionada se os jovens estão a dormir menos, a especialista indica que "sempre dormiram pouco. Antes do computador ouviam música, liam. É normal que o adolescente quando se fecha no quarto esteja a criar uma identidade e um espaço que o ocupa”.
“A internet foi um grande desafio à parentalidade: é a primeira vez que os pais são incompetentes numa das coisas mais importantes na vida dos filhos”, admite.
Explicando os problemas nos jovens, Margarida Gaspar de Matos indica que "os jovens que passam mais de quatro horas à frente do ecrã têm mais problemas mas os que não têm acesso também – percebem a sua vida com menos qualidade e sentem-se menos bem consigo”.
Mas o que realmente preocupa a especialista é que "os jovens portugueses estão tristes como não estavam desde 2002”. E o que levou a esta trizteza? A recessão. "Aumentou o número de jovens que dizem que vão para a cama com fome porque não têm comida em casa”, destaca a coordenadora.
“Outra coisa é a percentagem de miúdos que dizem ‘sinto-me tão triste que às vezes penso que não aguento’, que também aumentou”, adianta, acrescentando que "estamos mais saudáveis mas já não estamos mais felizes”.
Caso fosse governante, diz que "apostava forte e feio na saúde mental dos jovens e em conseguir trabalhar com eles no sentido de lhes dar uma esperança, competências de liderança e empreendedorismo”.
Em jeito de conclusão, deixa um conselho aos pais. "Os pais não têm de se responsabilizar por todas as coisas que acontecem aos filhos mas têm de se habituar a ouvi-los desde novos e a assumir que não têm as soluções todas. Às vezes quando estamos a tentar resolver tudo perdemos a capacidade de os ouvir e soluções eles têm – às vezes querem é uma validação e partilhar. Acho que devíamos falar muito menos e ouvir muito mais”.