Um lutador compulsivo, um homem “inimputável”, extremamente competitivo, com as virtudes que caracterizam os grandes líderes mundiais. Assim é José Sócrates, retratado no livro ‘Cercado’, lançado pelo jornalista Fernando Esteves a propósito da sua detenção.
O editor de Política e Mundo da revista Sábado entrou no Estabelecimento Prisional de Évora e, de certa forma, na cabeça do antigo primeiro-ministro que está preso preventivamente no âmbito da Operação Marquês.
O depoimento mais elucidativo que recolheu terá sido dado, talvez, pelo companheiro de cadeia João de Sousa, inspetor da Polícia Judiciária. Segundo este, Sócrates “considera-se uma personagem ao nível de um Napoleão, de um Mário Soares e de um Nelson Mandela”.
Certo de que a justiça nunca lhe iria apontar o dedo desta forma, considera ter “força das grandes figuras da história” e acredita que “ainda pode ganhar o processo, ser ilibado e ganhar uma força pública que lhe permite continuar uma carreira política ao mais alto nível”.
Não é algo que em que autor, entrevistado pela Rádio Renascença, acredite. “Penso que é uma ilusão, que a carreira política de José Sócrates está acabada”, afirma, na certeza de que “a sua não condenação seria uma calamidade, uma tragédia para o sistema judicial”.
“O facto de esta procuradora-geral da República não olhar à conta bancária na hora de deter e de investigar os poderosos conferiu à sociedade portuguesa uma espécie de higiene democrática, que até agora ela não tinha. Só por intervenção divina é que ele pode não ser condenado”, acredita.
Mas Sócrates não se deixa vergar com facilidade. Depois de o mundo lhe “cair em cima”, quis transformar esta detenção num problema político, apostando numa estratégia que passa não tanto pela defesa estritamente jurídica, mas por convencer a opinião pública de que há razões políticas por detrás da sua detenção”.
Odiado por muitos, é inegável que continua a ser amado por outros tantos. Tratando-se de “alguém que exerce um domínio avassalador sobre as pessoas com quem trabalha, as pessoas prestam-lhe uma reverência total e absoluta”.
“Mesmo agora que é uma altura em que o podiam deixar cair, continuam a fazer-lhe romarias até Évora, o que de alguma forma reforça o estatuto que ganhou, que é o de alguma divindade à volta de José Sócrates”, explica o autor da obra ‘Cercado’.