"Se virmos que na sociedade isso está em perigo, naturalmente fazemos ouvir a nossa voz", disse, em entrevista à agência Lusa o grão-mestre do Grande Oriente Lusitano (GOL), Fernando Lima, para quem os maçons "têm de ter" a capacidade de alterar o rumo às coisas.
"Quem é que participou activamente na revolução francesa? Quem foram os grandes autores da declaração dos direitos dos Homens, os grandes impulsionadores da abolição da pena de morte? Quem foram os grandes impulsionadores da constituição da Sociedade das Nações, os grandes construtores do projecto europeu, a seguir à Segunda Guerra Mundial? É pela actuação de cada um deles [maçons] que impulsionam projectos, pois são agentes da mudança".
Para Fernando Lima, "é obrigação de cada maçon, se verdadeiro maçon for, através dos princípios da liberdade, da igualdade [relacionada com a justiça] e da fraternidade [no sentido da solidariedade] mudar o rumo quando está em causa o primeiro dos princípios: a dignidade".
O grão-mestre considera que já hoje "há perigos de que a própria liberdade seja puramente formal e que possa estar em causa a dignidade. E a dignidade é um pressuposto da liberdade".
"Quando isto falha estão em causa todos os outros princípios e pode criar os perigos de popularismos e totalitarismos", disse.
Fernando Lima acredita que "há pobreza em Portugal, que há gente que se calhar só tem uma refeição por dia, que tem dificuldades na educação dos seus filhos e em acudir a questões de saúde. Isso é causa de sofrimento e isso cria dor, angústia, medo -- do desemprego, da precariedade, de que o futuro dos filhos não esteja assegurado".
Perante isto, o grão-mestre apelou a todos os maçons para que, "no espaço público em que intervêm, debatessem estes problemas de uma forma muito aprofundada e bastante documentada".
Este apelo, que pode ser lido no página do GOL na internet e é datado de Dezembro passado, não foi feito "para ficar tudo na mesma", mas sim "para mudar, porque por este caminho as coisas não irão para um bom caminho".
Sobre o papel da maçonaria nesta mudança, Fernando Lima disse que "os maçons intervêm todos os dias no espaço publico. Não revelo nomes nem posições, mas há largas centenas de maçons que atuam todos os dias nos seus lugares, seja na política, na ciência ou nas empresas".
Sobre as reformas em curso, em áreas como a educação ou a saúde, o grão-mestre do GOL considera que "as sociedades tecnocráticas esvaziaram a educação no seu sentido mais nobre do termo, transformaram os sujeitos em objectos. Hoje, a educação é muito menos virada para o sentido humanista do que era nos outros tempos. Basta pensar na degradação em termos curriculares que a disciplina de filosofia foi tendo ao longo dos anos".
"A educação tem sentidos não humanistas nos últimos anos, senão nos últimos decénios, que são preocupantes para a geração futura", sustentou.