Ali concentrados desde cerca das 10:00, alguns manifestantes envergam t-shirts e cartazes escritos em francês com reivindicações ao Governo e, por entre o som das buzinas e apitos, ouvem-se slogans como "são uns ladrões", "é uma vergonha" e "'vive la France'".
Contactado pela agência Lusa, Luís Marques, dirigente do Movimento dos Emigrantes Lesados (MEL), demarcou-se, contudo, da organização do protesto, esclarecendo que "qualquer ajuntamento não é da autoria" do MEL, mas da iniciativa dos manifestantes, já que o movimento não recebeu as necessárias autorizações por parte da Câmara de Guimarães.
Fonte da autarquia referiu, no entanto, à Lusa que "nada foi proibido", até porque a organização da manifestação cumpriu todos os requisitos exigidos na lei.
"Recebemos um e-mail da Associação dos Indignados e Enganados do Papel Comercial (AIEPC) na sexta-feira, às 15:31, que encaminhamos para a Polícia Municipal e para a PSP. Cumpriram-se as 48 horas necessárias", esclareceu a autarquia.
Carminda Lima, 56 anos, natural de Viana do Castelo, mas emigrante em França desde bebé, disse à agência Lusa ter-se deslocado a Guimarães para protestar contra o facto de ter perdido "uma vida de economias".
"Os meus pais habituaram-nos a fazer economias e era aqui em Portugal que as deixávamos. O que o banco [Espírito Santo -- BES) nos disse é que era um produto garantido", afirmou, assegurando: "Portugal era o nosso país, mas hoje já não é, por isso trago a bandeira francesa".
Para Carminda, os emigrantes foram "o melhor alvo" do BES porque era "onde havia muitas economias para ir buscar".
"Não me roubaram o dinheiro, roubaram-me a nossa vida. É um bando de gatunos, estão-nos a matar", notou Maria Oliveira da Silva, de 70 anos.
O marido, Porfírio Silva, de 74 anos, conta que perdeu os juros e um depósito de 563 mil euros feito no BES.
"Roubaram-me tudo. Tudo. Meti cá tudo", lamentou.
O emigrante diz que o banco nunca lhe falou "em ações", caso contrário teria "fugido pela porta fora".
Esperança em reaver o dinheiro diz que não tem "nenhuma".
"Estão aí 800 mil euros, meus e da esposa", desabafou António Lino, emigrante em Paris durante cerca de 50 anos, que se deslocou de Mirandela para Guimarães para o protesto.
Devido à manifestação - mais uma das várias que os lesados do papel comercial do Grupo Espírito Santo (GES) têm vindo a protagonizar um pouco por todo o país -- a agência do Novo Banco no Largo do Toural esteve de portas fechadas.
Frente à dependência do banco encontram-se três polícias, a que se juntam alguns outros agentes distribuídos pelo Largo do Toural, mas o protesto tem decorrido sem incidentes.
O BES, tal como era conhecido, acabou a 03 de agosto de 2014, quatro dias depois de apresentar um prejuízo semestral histórico de 3,6 mil milhões de euros.
O Banco de Portugal, através de uma medida de resolução, tomou conta da instituição fundada pela família Espírito Santo e anunciou a sua separação, ficando os ativos e passivos de qualidade num 'banco bom', denominado Novo Banco, e os passivos e ativos tóxicos, no BES, o 'banco mau' ('bad bank'), que ficou sem licença bancária.
Há duas semanas, o Banco de Portugal anunciou ter recebido uma das três propostas finais revista para a compra do Novo Banco. O Banco de Portugal esclareceu, no entanto, que, apesar de só uma ter sido revista, "as propostas vinculativas recebidas no dia 30 de junho continuam integralmente válidas, tendo sido entretanto objeto de clarificações no âmbito das discussões havidas com cada um dos três potenciais compradores".
Assim, mantêm-se na corrida à compra do Novo Banco três candidatos: os grupos chineses Fosun e Anbang e o grupo norte-americano Apollo.