Numa missiva de cinco páginas enviada à redação da SIC e reproduzida, esta quinta-feira, pelo Diário de Notícias, José Sócrates volta a colocar em causa a investigação das autoridades relativamente às acusações de corrupção, branqueamento de capitais e fraude fiscal que lhe são imputadas.
Assim, o ex-primeiro-ministro escreve que “já não é possível disfarçar que este se tornou um processo saltitão, em que a investigação saltita de uma teoria para a outra de cada vez que a anterior esbarra contra a verdade”.
“Bem vistas as coisas, a investigação já acreditou em tudo e no seu contrário”, indica.
Nesta senda, José Sócrates enumera as teorias em que a acusação “já acreditou”.
“Já acreditou que a corrupção, que estaria na origem de tudo, foi praticada em Portugal, em Angola, na Venezuela, talvez na Argélia, de novo em Portugal, mas no Algarve (…); já ‘acreditaram’ também que ela aconteceu nas PPP rodoviárias, na Parque Escolar, no TGV e até no aeroporto que nunca foi feito; já acreditaram que o ‘agente corruptor’ começou por ser o conjunto das empresas do engenheiro Carlos Santos Silva, a seguir foi o grupo Lena, mas evoluiu depois, sem pestanejar, para promotores turísticos e imobiliários com interesses no Algarve”, aponta.
Nesta senda, o ex-líder socialista questiona: “tanta teoria não será demais?”
“O que este enorme desnorte da investigação revela é que todo este processo foi, desde o início, uma enorme precipitação e uma incrível leviandade. Vai sendo tempo de reconhecê-lo”, escreve.
Depois de falar no “processo saltitão”, José Sócrates debruça-se sobre a “teoria absurda” que envolve os seus movimentos financeiros.
“Cabe na cabeça de alguém que eu fosse vender património imobiliário que estava em nome da minha família, como ‘acreditam’ que fiz, e até obrigar-me a trabalhar para terceiros, como também ‘acreditam’, apenas para receber em troca desse património e desse trabalho o dinheiro que já era meu?”
O ex-primeiro-ministro continua a sua missiva com outras questões:
“Como explicar que sendo eu ‘dono’ de tal fortuna tenha pedido no ano de 2014 três empréstimos à Caixa Geral de Depósitos, pormenor que a investigação se esforça imenso para esconder? E como explicar ainda que, com dezenas e dezenas de buscas não tenham encontrado nenhum documento, nenhum título que me desse acesso a essas contas e ao dinheiro existente nelas?”
Assim, em jeito de conclusão, Sócrates sublinha que “ao fim destes longos nove meses” é “tempo de todos tirarem uma conclusão: fui preso sem que existissem quaisquer provas contra mim”.