O também deputado socialista foi ouvido sexta-feira em Ponta Delgada, após lhe ter sido levantada imunidade parlamentar, na comissão de inquérito ao transporte marítimo de passageiros da assembleia legislativa, criada para analisar investimentos públicos e apurar responsabilidades políticas nos acidentes de 2014 na Horta, em São Roque do Pico e na Madalena do Pico.
Em São Roque, um homem morreu a bordo de um transporte de passageiros, depois de ter sido atingido por um cabeço de amarração que se soltou quando a embarcação atracava. Dos outros incidentes não resultaram vítimas.
O comandante referiu que alguns estudos são "um misto de arranjinhos e falta de conhecimentos técnicos", deixando fortes críticas aos documentos do Gabinete de Prevenção e de Investigação de Acidentes Marítimos (GPIAM), da Rinave -- Registro Internacional Naval e do Instituto Superior de Engenharia de Lisboa (ISEL).
Lizuarte Machado disse não fazer sentido ter sido a empresa pública Transmaçor (que opera ligações marítimas no grupo Central) a pedir à Rinave uma análise das condições técnicas do porto de São Roque, quando essa função caberia à Portos dos Açores (gestora destas infraestruturas), e considerou o documento "absolutamente irrelevante".
"A Rinave não faz a mínima ideia do que é a análise a um cabeço, em Portugal só o Instituto de Soldadura e Qualidade sabe", afirmou, acrescentando que um segundo relatório da Rinave é "muito pobre e mal fundamentado".
Entre os erros, apontou, estão contradições relativas às capacidades de carga dos cabeços e dos cabos de amarração e a apresentação de coeficiente de segurança para cabos, quando nas atuais regras esse indicador não existe.
O documento do GPIAM, no seu entender, tem "as mesmas asneiras", com a diferença de poder ser consultado em todo o mundo: "É confrangedor para um homem do mar como eu quando um gabinete oficial publica um relatório destes".
Lizarte Machado sublinhou, entre outras questões, que o relatório aponta diferentes valores para o tamanho das ondas num dos acidentes e que no cenário colocado o navio nem teria condições para estar a operar no porto, devido à reduzida altura da maré.
No documento refere-se uma ausência de manutenção dos cabeços em São Roque, mas o comandante questionou que outros portos no país fazem uma manutenção que não se baseie na inspeção visual e afirmou que não é olhando para um cabeço que se percebem fraturas anteriores.
Insistindo na desadequada relação entre as capacidades dos cabos e dos cabeços utilizados, Lizuarte Machado realçou na audição que o porto de São Roque é "o pior dos Açores em termos operacionais" e repetiu que os mestres das embarcações "fazem as manobras sempre corretas".