Não é a primeira vez que o nome de Marques Mendes surge associado a conversas com arguidos no caso da atribuição de vistos gold. Mas o antigo líder do PSD surge em escutas e a falar de outras ajudas, embora realce que não fez nada de errado.
As escutas de que o Público dá agora conta envolvem processos que já conhecíamos desde finais de 2014: Marques Mendes terá chamado a atenção para a atribuição de nacionalidade portuguesa à mulher de um dos maiores empresários de Moçambique mas também a uma cidadã brasileira que tencionava fazer investimentos avultados em território nacional. Mas houve mais pedidos.
Numa das chamadas que fez a António Figueiredo, o antigo presidente do Instituto dos Registos e Notariado (IRN), arguido e alvo de vigia e de escutas por parte da Polícia Judiciária, Marques Mendes pediu ajuda para tratar do cartão de cidadão da filha. “Era uma situação de emergência”, diz ao Público, explicando que a filha se ia casar e precisava do documento para tratar da escritura.
O empresário moçambicano que é assunto noutra escuta é Salimo Abdula. O processo de atribuição de visto à sua mulher parecia ter ‘pernas para andar’ mas demorava. “Podemos eventualmente ir pela via da discricionariedade”, diz António Figueiredo. “Claro, claro”, responde Marques Mendes, que ainda se disponibiliza para falar com o então ministro da Economia, Pires de Lima.
Sobre este caso em particular, Marques Mendes, questionado pelo Diário de Notícias, explicou ter feito apenas um “alerta”. E se dúvidas houvesse sobre se em causa estava alguma forma de cunha, “ainda hoje não está resolvido” este processo, explicou o comentador da SIC.
Noutra das escutas o assunto é um projeto para trazer feridos de guerra líbios para Portugal. Aqui o interlocutor de Marques Mendes é Jaime Gomes, amigo do ex-ministro Miguel Macedo. Neste caso era Marques Mendes a dar a ajuda, jurídica e fiscal. “Coloquei-o em contacto com uma especialista em direito fiscal”, explica ao Público. Mas o mesmo jornal revela outra parte da conversa sobre este negócio envolvendo feridos líbios.
Bem-disposto, Jaime Gomes faz uma piada: “Quanto mais feridos houver, mais oportunidades existem”. Jaime Gomes explica que não quer que ninguém morra, mas quer que a sua vida “corra”. Marques Mendes acompanha o sentido de humor: “só convém que não morram”. Porém, “se os gajos ficarem assim um bocado tortos, isso até dá jeito”.