É normal um laboratório ter uma vasta coleção de vírus que são utilizados, quando necessário, para o diagnóstico de doenças desconhecidas. “Era uma prática comum fazer-se essas trocas, portanto o nosso antigo diretor, na altura, recebeu o vírus muito cedo, depois de ele ter sido isolado, e usou-o no laboratório. Depois ficou guardado na nossa coleção histórica”, indicou ao Notícias ao Minuto Maria João Alves, investigadora do Centro de Estudo de Vetores e Doenças Infecciosas do Instituto Nacional de Saúde.
O vírus voltaria a ser usado em 2007, quando surgiu o primeiro surto de dimensões consideráveis - centenas na Micronésia e milhares na Polinésia. “Até 2007 só tinha havido 14 casos humanos que tinham sido diagnosticados porque os investigadores tinham à disposição o vírus para poder fazer o diagnóstico sorológico e molecular”, indicou a profissional.
Nessa altura, Portugal já tinha método de diagnóstico do vírus e os profissionais do Instituto Ricardo Jorge voltaram a preparar e a disponibilizar o mesmo.
“Nós tínhamos o método sorológico uma vez que dispúnhamos do vírus. Desenvolvemos o método sorológico de identificação de soro e fornecemos material para a produção em outros países como Espanha, Alemanha, de maneira a que pudessem fazer o diagnóstico”, explicou Maria João Alves.
Agora, esses países já são autónomos no diagnóstico da doença mas, em 2007, foram os materiais portugueses a ser enviados para esses países e a contribuir, inclusive, para o diagnóstico.
Investigador português foi um dos dois únicos casos de infeção laboratorial
A vinda do vírus Zika para Portugal encerra uma curiosidade. Conforme explicado acima, antes do surto de 2007, tinham-se registado apenas 14 casos clínicos de infeção, sendo que duas delas foram infeções laboratoriais, ou seja, contraídas na manipulação dos vírus para investigação.
Armindo Filipe, o antigo diretor responsável pela vinda da estirpe para Portugal, foi um desses casos, ocorrido no ano de 1972, nos laboratórios portugueses.
“Foi uma febre de dois dias e foi uma curiosidade, passou completamente. E provavelmente foi até na manipulação do vírus com animais infetados, provavelmente nas experiências com ratinhos”, adiantou Maria João Alves.