Eutanásia ou paliativos? "Temos uma economia que mata", diz Igreja

O manifesto ‘Morrer com Dignidade’ voltou a colocar a eutanásia na ordem do dia e o Notícias ao Minuto procurou conhecer a posição da Igreja Católica sobre o tema.

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Carolina Rico
16/02/2016 08:05 ‧ 16/02/2016 por Carolina Rico

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Para o padre Vítor Feytor Pinto, quem pede ajuda para morrer não quer necessariamente “destruir a vida” mas antes “descobrir outra forma de vida”.

Enquanto coordenador da Pastoral da Saúde, durante 32 anos acompanhou doentes terminais. “Muitos dos quais morreram nos meus braços”, contou em entrevista ao Notícias ao Minuto.

É essa experiência que o leva a crer que quem verbaliza um pedido de ajuda para morrer não procura a eutanásia mas apenas acabar com o sofrimento, e isso é algo que os Cuidados Paliativos podem facultar.

“Qualquer pessoa na fase final da sua vida deve ser assistida de forma médica, espiritual e familiar […] Quando é assim acompanhada e quando não tem dor (e nós podemos hoje tirar a dor) adquire uma certa qualidade de vida”.

Para garantir este acompanhamento, “os médicos e os enfermeiros não podem fugir, não podem voltar as costas ao doente terminal”, mas antes adotar “a terapia da compaixão” e o mote “quando já não puderes curar tens de o dever de cuidar”.

Por outro lado, é também essencial “encontrar os meios suficientes para que em todos os hospitais haja cuidados paliativos” que permitam o atenuar da dor física e um maior acompanhamento humano, considera.

Quando não se investe na construção de centros de cuidados paliativos “então o Papa Francisco tem razão quando diz que temos uma economia que mata”.

Os potenciais “interesses economicistas” na questão da eutanásia preocupam também o Presidente da Associação dos Médicos Católicos Portugueses, Carlos Alberto da Rocha.

Embora não pretenda acusar os subscritores deste manifesto de agirem em abono destes interesses, o responsável entende que este é um risco que não pode ser descurado.

“O grande problema das relações humanas, entre o médico doente, ou entre familiares é uma grande falta do amor”, lamenta o médico.

 

“Quem ama não mata quem ama”

Antecipar ou abreviar a morte de doentes em grande sofrimento e sem esperança de cura não é um ato de misericórdia, considera o padre Vítor Feytor Pinto. “Quem ama não mata quem ama”.

E quem deve decidir qual é o melhor futuro de um doente em estado terminal? O clérigo considera que deve ser o médico, em vez de se colocar esse encargo num doente em sofrimento ou na família, “que não tem competência para fazer essa avaliação”.

Ora, quando código deontológico dos médicos e o juramento de Hipócrates ditam que o dever destes profissionais é proteger a vida humana, mesmo que um médico católico possa ter “perspetiva diferente da vida” não é preciso ser religioso para considerar que “dar a morte a alguém não faz parte daquilo que é a missão do médico”, defende Carlos Alberto da Rocha.

“Há possíveis consequências a ter em conta para o exercício da medicina de admitir essa possibilidade quase como uma terapêutica”, aponta o presidente da Associação dos Médicos Católicos Portugueses.

Para o padre Vítor Feytor Pinto, o caso muda de tom se em causa estiver um adiar da morte “com cuidados fúteis, inúteis e desproporcionados”, como manter ligada uma máquina de suporte de vida “que já não está a ser útil”. Aqui não se fala de eutanásia mas sim de “uma medida contra a distanásia”, defende, argumentando que neste caso não devem ser tomadas medidas extraordinárias para manter uma pessoa viva.

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