Em Janeiro foram realizados apenas 7217 nascimentos, menos 306 que no mesmo mês do ano passado. Cenário idêntico em Fevereiro, com apenas 6340, menos 666 do que em 2012. A responsável da Unidade de Rasteio Neonatal do Instituto Nacional Ricardo Jorge, Laura Vilarinho, admite que “ainda é cedo para vermos a tendência, mas não se nota nenhum aumento” ou “sinal de recuperação”.
Portugal não atinge a barreira dos cem mil nascimentos desde 2009, e no ano passado só chegou aos 91 mil. “A crise e a situação económica têm tido um impacto muito grande. Já sem a crise, a natalidade baixou para números preocupantes. Além do adiar dos projectos de criação de famílias, temos o envelhecimento da população”, alerta João Silva Carvalho, presidente do colégio de ginecologia/obstetrícia da Ordem dos Médicos. A juntar a isto, acrescenta em declarações ao DN, o “desemprego jovem está a ter uma grande repercussão no decréscimo da natalidade” e “estamos a criar factores de infertilidade no futuro”.
Em média cada portuguesa tem 1,3 filhos, sendo que o primeiro nasce aos 29 anos. Por isso, “os grupos etários dos 30-34 e dos 35-39 anos têm uma importância cada vez maior, [mas] isso condiciona a fecundidade final”, salienta Maria Filomena Mendes, presidente da Sociedade Portuguesa de Demografia, acrescentando que “os filhos adiantados não se recuperam. O tempo passa e são nascimentos perdidos, em relação às intenções dos casais”.
“Se continuarmos numa situação de elevada incerteza, desemprego e precariedade, muito dificilmente vamos reverter o declínio da natalidade nos próximo anos”, alerta a demografa.
Além destas questões, a quebra da natalidade também está a afectar a economia, designadamente nas vendas de alimentação para bebés que, segundo dados da consultora Nielsen, desceram 17,3% em 2012.