Exactamente um ano após a revolução, quase 6,7 milhões de pessoas elegeram os deputados que elaboraram a Constituição, atribuindo a maioria ao PS (2,1 milhões de votos) e PPD (1,5 milhões de votos). Nessas eleições, as primeiras em liberdade, apenas 526 mil eleitores (8,5%) não exerceram o seu direito de voto.
O município de Fronteira (Portalegre) teve a mais baixa abstenção (3,9%), enquanto em Mortágua não votaram 19,1% dos eleitores, o valor mais elevado.
A elevada adesão às urnas de 1975 não voltou a verificar-se: logo no ano seguinte, as eleições para a Assembleia da República tiveram uma taxa de abstenção de 16,7%, ainda assim inferior à registada para eleger Ramalho Eanes como Presidente da República no ano seguinte -- 24,6%.
A informação está reunida na página da internet da Pordata, um projecto da Fundação Francisco Manuel dos Santos, que passou a disponibilizar também as votações por município nas 38 eleições realizadas em Portugal após a revolução do 25 de Abril, com base nos dados da Direcção Geral da Administração Interna (DGAI).
A análise dos dados permite fazer uma leitura sobre a evolução dos níveis de abstenção no país, com uma tendência de aumento em todos os tipos de eleições -- presidenciais, legislativas, autárquicas, europeias e regionais.
"Leva-nos a tentar ir um bocadinho mais longe na compreensão do fenómeno da abstenção, tão pouco conhecido em Portugal. É mais um contributo para percebermos o que leva as pessoas a não votarem, o que também pode condicionar muito os resultados. É extremamente útil para percebermos o que tem sido obscuro até hoje", referiu em entrevista à Lusa a directora da Pordata, Maria João Valente Rosa.
A poucos meses da realização de eleições autárquicas, a disponibilização da informação sobre a participação eleitoral dos portugueses permite "um maior esclarecimento da população".
"Se ficarmos mais esclarecidos somos também mais livres. Quanto mais conhecemos, mais livres somos", disse a responsável.
O novo tema agora disponível no site da Pordata "é mais uma porta para conhecermos melhor o país que temos", permitindo cruzar a informação sobre os votos em determinado município ou região e comparar com outras áreas e com o país, explicou.
A Pordata é um portal de dados na internet, que concentra dados oficiais sobre diversas estatísticas relativas à sociedade portuguesa em áreas como a população, a saúde, a educação, o emprego e condições de trabalho, habitação, segurança social, justiça ou municípios.