“O Estado Social foi uma espécie de cimento da democracia e o Estado Social está a ser desgastado”. É desta forma que o sociólogo António Barreto sintetiza a ideia de que a democracia em Portugal está em risco. Vai mais longe, aliás, ao afirmar que “é a primeira vez em 35 anos” que sente que o sistema democrático “está em causa”.
“A fractura entre o PS e o PSD é cada vez maior”, assinalou Barreto, que falava na antena da SIC Notícias, lembrando que “tudo começa em pequenino”, como tal, começam já a haver “alguns elementos” que podem indiciar “o colapso das instituições”.
E forneceu um exemplo, em seu entender, paradigmático. “A Justiça é o sangue da democracia, o sangue da Liberdade, é o fundamental. E parece ser a última coisa na qual o legislador pensa quando quer fazer alguma coisa de importante para o País”, sublinhou.
Para o sociólogo, os políticos demonstram “cada vez menos seriedade” e estão a mexer em pedras basilares da sociedade democrática, como o princípio da “confiança” e o da “não retroactividade das leis”, reportando-se aqui, em concreto, à medida anunciada pelo secretário de Estado da Administração Pública, Hélder Rosalino, relativamente ao corte de 10% nos rendimentos dos pensionistas.
Relativamente à taxa de 17,7% de desemprego em Portugal, registada no primeiro trimestre do ano, segundo dados do Instituto Nacional de Estatísticas hoje divulgados, António Barreto comentou que estes números são “uma enormidade” e que “o desemprego é uma espécie de fatalidade que se está a enraizar”.