Ser pai ou mãe tornou-se "muito exigente" e causa angústia

A tarefa de ser pai ou mãe tornou-se "muito exigente", causando angústias que podem levar ao adiamento da parentalidade, defendeu hoje a socióloga e investigadora Vanessa Cunha, responsável por um estudo que será apresentado na quinta-feira.

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Lusa
29/05/2013 08:00 ‧ 29/05/2013 por Lusa

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A decisão de ter filhos "tornou-se qualquer coisa de muito exigente, parece que temos de ser muito qualificados em termos parentais para assumir este compromisso", disse à agência Lusa Vanessa Cunha do Instituto de Ciências Sociais (ICS) da Universidade de Lisboa.

 

Actualmente, "há muitas pessoas que sentem insegurança acerca se vão saber ser pais, se vão conseguir exercer convenientemente este papel", ao contrário do que acontecia na geração anterior em que a parentalidade era "assumida mais naturalmente, sem este tipo de angústias e incertezas", explicou.

 

Vanessa Cunha é a investigadora responsável pelo estudo "a intenção de ter crianças e o adiamento em tempos de incerteza", realizado em parceria com o centro de investigação da Universidade de Évora e que será apresentado na quinta-feira.

 

Este projecto pretende ajudar a compreender o adiamento da parentalidade em Portugal, tanto do segundo filho, o que já vinha acontecendo há alguns anos, como do primeiro, o que é uma situação recente.

 

"O que temos desde os anos 50 é o adiamento da vinda do segundo filho o que faz com que seja tão visível a questão do filho único na sociedade portuguesa", um traço distintivo em relação aos vizinhos culturais da Europa do sul, explicou Vanessa Cunha.

 

Mas, a geração que nasceu entre 1970 e 1975 "já tem um adiamento intenso do nascimento do primeiro filho" e, num inquérito realizado em 2010, quase 30% dos homens e 20% das mulheres ainda não tinham tido filhos, segundo Vanessa Cunha.

 

A investigadora referiu que são muitas as razões para o adiamento da decisão de ter filhos, sendo "a insegurança financeira a questão central em jogo".

 

Sendo uma decisão de longo prazo, a análise não fica pela situação económica e é cada vez mais ponderada não só em termos individuais, mas também de casal e o estudo vai analisar como as divergências são negociadas e como podem levar ao adiamento.

 

O facto de as conjugalidades "serem hoje consideradas, à partida, qualquer coisa que pode não ser para a vida toda conflitua com a ideia de que a parentalidade é para a vida, acha-se que ter filhos continua a ser um projecto que deve ser vivido a dois", explicou.

 

A insegurança e incerteza laboral e de políticas públicas na área da família, com perda de direito a benefícios como os abonos, a dificuldade de conciliação entre vida profissional e vida da família e a falta de apoio de familiares, principalmente dos avós, são outras razões para as dúvidas.

 

"Este adiamento também torna a questão da transição para a parentalidade numa luta contra relógio e muitas vezes já enfrentam outras dificuldades, ao nível da fertilidade. Muitas vezes querem um segundo filho e já não conseguem", alertou ainda Vanessa Cunha.

 

 

 

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