“Não podemos deixar que os nossos carrascos nos dêem maus costumes”. A autoria da expressão é de Simone de Beauvoir e foi escrita no pós-Segunda Guerra Mundial, numa clara alusão aos nazis.
Ontem, esta mesma frase foi empregue pela presidente da Assembleia da República, Assunção Esteves, depois de nas galerias do Parlamento ter eclodido um estridente protesto contra o Executivo de Pedro Passos Coelho, exigindo a sua demissão.
Visivelmente irritada, a segunda figura mais importante do Estado português, ordenou que os manifestantes se retirassem, elevando o tom de voz, e repetindo-se até à exaustão. No fim, Assunção Esteves disse aos deputados que talvez fosse boa ideia rever as regras de acesso do público à Assembleia.
As reacções foram imediatas e uma chuva contestatária invadiu, nomeadamente, as redes sociais, onde ontem podiam ler-se mensagens incendiárias contra a atitude da presidente do Parlamento.
Mais tarde, Assunção Esteves viria a justificar-se, alegando que não era sua pretensão “ofender nada nem ninguém”. “Significa que quando as pessoas nos perturbam não devemos dar atenção”.
Certo é que não se trata da primeira vez que Esteves recorre à frase de Beauvoir em público. Tinha-lo feito já para se reportar à prisão de Guantánamo.