“Isto é um bluff de todo o tamanho. Tudo isto é um processo que demoraria muito mais de um ano, porque só na qualificação eles estariam um ano, mesmo que não tivesse sido considerado inconstitucional nunca isto teria qualquer efeito orçamental nem este ano, nem no próximo”. As palavras pertencem à antiga líder social-democrata e ex-ministra das Finanças, Manuela Ferreira Leite, que falava ontem à noite na antena da TVI24.
A antiga governante defendeu que o chumbo do Palácio Ratton “não tem nada a ver nem com a necessidade de redução de despesa do próximo ano, nem com o Orçamento do próximo ano, nem com a oitava avaliação da troika, não tem a ver com nada do ponto de vista orçamental”.
A este propósito, assinalou Ferreira Leite, “só pode ser mais fácil [negociar] com uma criatura que quer que se faça determinada coisa, ao dizer-lhe ‘eu queria fazer, mostrei que queria fazer, mas não me deixam”.
Quando questionada sobre qual seria o objectivo do Governo com o novo regime da requalificação dos funcionários públicos, a ex-líder do PSD respondeu: “Era provavelmente para ter a hipótese de vir a libertar-se dos funcionários, admito que sim”.
“Por este motivo, por estas normas não terem sido consideradas constitucionais para o Orçamento de 2014 não se perde um cêntimo”, reiterou.
Aliás, salientou a antiga ministra, “aquilo que eu acho aqui preocupante é que, a propósito desta possibilidade de despedimento, se amedronte as pessoas com o papão de que ‘agora que grande desgraça aconteceu, como é que nós fazemos a consolidação das contas públicas?’”.
Por fim, rematou Ferreira Leite: “Nós estamos ou não estamos num Estado de Direito? Como eu acho que cada vez que há medidas muito violentas de corte de despesa, e isso só nos prejudica, eu continuo a achar que o chumbo do Constitucional nalgumas situações só nos ajudou a não nos afundarmos tanto”.