O antigo ministro das Finanças, Bagão Félix, reconheceu os dados positivos que a economia portuguesa tem mostrado mas não descarta a hipótese de as perspectivas macroeconómicas apresentadas pelo Governo falharem.
No habitual comentário às quartas-feiras na antena da SIC Notícias, o ex-governante considerou que será “difícil” alcançar a meta do défice prevista para 2014 (4%), sublinhando que “quem está no Governo não tem uma varinha mágica” para adivinhar se tal será ou não cumprido.
Sobre o Orçamento do Estado apresentado ontem pela ministra das Finanças, Maria Luís Albuquerque, Bagão Félix defendeu que o documento “está cheio de falácias” pela constante aposta na “mesma fórmula” que “agrava” a situação da economia nacional.
Para o economista uma das falácias deste Orçamento diz respeito ao facto de o Governo garantir que não traz mais austeridade, quando na sua opinião "não só traz como traz mais". Bagão Félix acusou ainda o Executivo de continuar a impor medidas que “não estavam previstas no plano de entendimento” assinado em 2011 com a troika.
“Estava previsto o congelamento de salários e de pensões, a redução de isenções, o aumento do IVA. Eu próprio fiquei surpreendido. Já não sabemos o que está no princípio de tudo isto”, contestou.
Para o antigo ministro “este modelo não serve” e, reiterou, “existem muitas alternativas”, como “reposicionar o programa de austeridade com outro ritmo, com outra forma de fazer austeridade, sem que o crescimento seja inibido”.
Uma outra falácia apresentada pelo comentador em relação ao Orçamento do Estado para 2014 refere-se à “mistificação da palavra ‘transitório’”. Bagão acusou o Governo de dizer que os cortes nos salários, por exemplo, são transitórios, mas que nem sempre tal acontece. “Não sei se é transitório e definitivo ou definitivamente transitório”, afirmou.
Na opinião do economista estamos novamente perante um Orçamento que "compartimenta a sociedade entre novos e velhos, funcionários públicos e não públicos, empresas grandes e pequenas" e que, ao contrário do que sustenta o Governo, "não traz equidade."