A contestação ao Governo está a chegar às elites e ex-governantes, destaca hoje o Diário Económico, referindo que a última reacção partiu da Associação para o Desenvolvimento Económico e Social (SEDES), liderada pelo ex-ministro Luís Campos e Cunha, ao afirmar que “ninguém confia em quase nada que seja prometido pelo Governo”.
“Por erros de comunicação, políticas erráticas e decisões fora de tempo, criou-se uma incerteza absolutamente desnecessária e um ambiente de desconfiança em relação ao Estado de Direito incompatível com a recuperação económica do investimento e do emprego”, justifica a SEDES num documento ontem publicado.
No mesmo sentido, a consultora SAER salientou recentemente no seu relatório trimestral que os “anticorpos” criados “numa parte significativa da população”, resultam no facto de “ninguém” ser “capaz de [neste momento] dizer com certeza que organismos estatais não têm viabilidade”.
Estas posições convergem com a que, por exemplo, a antiga ministra das Finanças, Manuela Ferreira Leite, apresentou aquando da apresentação do Orçamento do Estado para 2014: “Se eu tivesse no Governo e fosse responsável por este Orçamento rezava todas as noites para que Tribunal Constitucional chumbasse bastantes medidas”.
Também o ex-ministro Bagão Félix sublinhou que “estamos na fase de desesperança, uma fase que sucede ao desespero”, enquanto Silva Peneda, presidente do Conselho Económico e Social (CES), referiu que “a maior transformação que se passou nos últimos anos foi a captura do poder político pelo poder financeiro”. Já Bruto da Costa, ex-presidente do CES, defendeu há dias que “há um problema de comportamento do Governo” que “não se dá conta de que fere a filosofia de base”.
Também o presidente da Confederação Empresarial de Portugal (CIP), António Saraiva, destacou que a proposta do Orçamento para o próximo ano está “muito longe” de “conciliar o reequilíbrio das finanças públicas e o fomento do crescimento económico”, ao fazer “um esforço violento de consolidação orçamental” que “deprime ainda mais a procura interna”.
Em declarações ao Diário Económico, o investigador do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra, Nuno Teles, esclarece, porém, que estes organismos e ex-governantes “não criticam a austeridade enquanto tal, mas sim o desenho do programa [de ajustamento]. [Enquanto na rua] se faz uma rejeição do programa como um todo”.
Já o politólogo Carlos Jalali explica que “os resultados de consolidação orçamental, crescimento, redução dívida não foram atingidos, ou pelo menos no grau que desejaríamos”, o que “reforça a ideia de crise prolongada” e “leva a que as críticas sejam potenciadas”.