É oficial, Luís Montenegro está na corrida à liderança do PSD. O ex-líder parlamentar dos sociais-democratas durante a era de Passos Coelho anunciou, na noite desta quarta-feira, em entrevista no Jornal da Noite na SIC, que será candidato à liderança do partido.
Luís Montenegro quebrou assim o silêncio depois de meses longe dos 'holofotes'. No início deste ano, o antigo deputado prometeu que faria declarações ao país na noite eleitoral. Porém, até então o advogado ainda não tinha tomado uma posição pública relativamente os resultados eleitorais. Fê-lo esta quarta-feira.
Começou Luís Montenegro por defender que o resultado do PSD nas eleições do passado domingo "foi mau", aproveitando ainda a oportunidade para vincar que "a estratégia política falhou" e levou o PSD a ter um resultado "que não tínhamos há 36 anos".
Perante este cenário, acredita o social-democrata que "cada um de terá de assumir as suas responsabilidades". E "eu vou assumir as minhas", confessou. "Serei candidato nas próximas diretas por uma questão de coerência e de convicção. E gostava muito que Rui Rio também pudesse ser candidato porque, tal como disse em janeiro, o PSD precisa de uma clarificação acerca do seu posicionamento político e do seu projeto de intervenção cívica e social no país".
Essa clarificação, precisou, "não foi possível antes do círculo eleitoral". Agora é tempo de "projetar o partido para esta nova legislatura e de preparar as eleições autárquicas. É altura de podermos ter uma disputa aberta, onde todos possam trazer as suas ideias e criar um partido mais forte", defendeu.
Já quanto à performance de Rui Rio na campanha, Luís Montenegro sugeriu que o atual líder do partido deverá "avaliar, em função dos resultados que teve, das convicções que o movem, se deve ou não recolocar-se como candidato para se manter na liderança do PSD".
No seu entendimento, "se a clarificação for a maior possível, o partido sai mais reforçado, com pujança política para se afirmar como alternativa ao PS", o que "objetivamente não sucedeu nos últimos dois anos".
Luís Montenegro não escondeu que "era previsível, infelizmente, pelo curso pelo o PSD tomou, que haveria um desaire eleitoral". Agora, "se o Dr. Rui Rio tivesse ganhado as eleições, eu não estaria aqui a dizer o que disse".
"Não tenho nenhuma guerra pessoal com o Dr. Rui Rio, eu quero é um PSD ganhador e alternativo ao PS", confessou, acrescentando que o PSD "se transformou nos últimos dois anos num partido subalterno do Partido Socialista. É preciso dizer chega, basta. O PSD não pode estar todos os dias a reclamar entendimentos com o PS, reclamar reformas estruturais com o PS. O PSD tem de ter vida própria".
Ainda relativamente aos resultados da noite eleitoral, recorde-se que Rui Rio tem sido alvo de contestação não só por parte dos habituais críticos, mas também por parte de ex-apoiantes. Perante este cenário, Luís Montenegro foi ainda mais longe e defendeu que "o PS era batível nestas eleições se tivéssemos tido uma estratégia de oposição firme, se se tivesse assinalado os erros da governação". Acredita o ex-líder parlamentar que o resultado do PSD teria sido diferente se se tivesse feito "nos últimos dois anos o que o Dr. Rui Rio fez nas últimas três semanas".
Coesão, união e que "todos se possam agregar em torno de uma liderança comum" são os pilares em que Luís Montenegro se apoiará na sua candidatura. Como presidente, o social-democrata quer um "partido vocacionado para ser maioritário. O PSD não pode ser o maior dos pequeninos, tem de ser o maior dos grandes".
Já questionado se se sente um candidato "fragilizado", uma vez que é arguido no caso das viagens ao Euro 2016, Luís Montenegro diz-se de "consciência tranquila e segura" de que não cometeu nenhum crime. Por isso, não irá deixar de exercer os direitos e deveres cívicos. "Tenho a certeza absoluta que jamais serei condenado", sustentou.
Relativamente ao passado associado a Pedro Passos Coelho, Luís Montenegro não renega "a atividade política dos últimos 25 anos" e afirma um princípio: "Só me candidato por considerar que estou em melhores condições do que os outros".
Já Morais Sarmento... defende Rio
O vice-presidente do PSD Nuno Morais Sarmento classificou na quarta-feira o resultado do partido nas eleições como "curto", mas defendeu que Rui Rio tem "mais bagagem e competência técnica" para liderar o partido do que Luís Montenegro.
Em entrevista ao programa 'Grande Entrevista' da RTP3, Morais Sarmento foi confrontado com o anúncio, horas antes, de que o antigo líder parlamentar do PSD Luís Montenegro será candidato à liderança do PSD nas próximas diretas, previstas para janeiro.
"Foi um bom líder parlamentar, nada contra isso. Não gosto de julgar negativamente, mas reconheço outra bagagem, outra competência técnica, outra experiência, até outra capacidade de merecer a confiança dos portugueses a Rui Rio do que a Luís Montenegro", afirmou.
O vice-presidente do PSD disse ainda desconhecer qual a estratégia proposta por Montenegro para o partido, a não ser na alteração de posicionamento do PSD, da qual discordou frontalmente.
Para Morais Sarmento, foi a estratégia de "recentramento do PSD como partido social-democrata e não de pretenso liberal" da atual direção que permitiu ao partido evitar "o risco" que considera que correu, apontando os resultados das autárquicas de 2017 em concelhos como Lisboa e Porto, pouco acima dos 10%.
"Antes destas eleições legislativas, o PSD estava em risco, esse risco foi ultrapassado nestas eleições", defendeu, apontando que 1,4 milhões de portugueses "confiaram" no PSD.
"A estratégia alternativa era malhar na esquerda como vimos ser feito mais no CDS com resultados significativamente mais negativos?", questionou.
Desafiado a classificar numa palavra o resultado do PSD nas legislativas - 27,9% contra 36,6% do PS -, Morais Sarmento respondeu "curto", mas considerou que nem esta votação nem a das europeias são impeditivas de Rui Rio se recandidatar.
"É uma decisão pessoal, exclusivamente dele", afirmou, mas garantindo que o atual líder - que "terá seguramente cometido erros" - continuará a contar com o seu apoio se decidir concorrer novamente à liderança do PSD.
"Não vejo ninguém que tenha um perfil mais diferenciado do perfil negociador, semirredondo, politicamente redondo de António Costa", afirmou, na entrevista conduzida por Vítor Gonçalves.
Sobre o 'timing' em que Rui Rio anunciará a sua decisão, o 'vice' do PSD defendeu que seria "irresponsável para um partido líder da oposição que existissem decisões ou demissões antes de haver governo", acrescentando que o PSD "não é o CDS".
"Rui Rio tomará a sua decisão consoante a utilidade que vir para o país na sua permanência ou na sua saída", assegurou.
O PSD só encontrará caminho se deixar de "parecer uma gaiola das malucas"
Sobre a posição transmitida à Lusa pelo ex-Presidente da República Cavaco Silva, de tristeza com os resultados do partido, Morais Sarmento recusou fazer interpretações, mas disse concordar que o PSD precisa de unidade.
"Se no PSD continuarmos a achar graça a pormos a personalidade acima das ideias, dos princípios e do próprio partido vamos pelo mau caminho", apontou, dizendo que o PSD só encontrará caminho se deixar de "parecer uma gaiola das malucas".
Quanto ao futuro Governo, Morais Sarmento considerou que "para o país a melhor solução é o PS sozinho": "Qualquer outra combinação sai mais cara", avisou.