"Este Governo fez uma ruptura, que não foi só com a ciência", começa por observar Manuel Sobrinho Simões numa entrevista concedida ao Público, marcada uma tónica discursiva contundente no que concerne à acção do Executivo de Passos Coelho. E, prossegue, "fez uma espécie de destruição criativa: rebentou com tudo, esperando que, das cinzas, nasça algo de novo. Na ciência não nasce".
Para o conceituado cientista, as perdas que o País tem vindo a sofrer com a austeridade são já incalculáveis. "Perdemos muita gente. E perdemos esperança", assinalando também que a proposta de Orçamento do Estado para 2014 "é péssima, porque corta de forma cega".
"Não reforça as instituições que merecem e deviam ser premiadas", critica o cientista, reportando-se ao diploma que define o rumo que o País irá tomar no próximo ano.
À pergunta sobre se, no fundo, está a ser aplicada à ciência a cartilha do empreendedorismo, Sobrinho Simões responde: "A ciência, antes de mais nada, precisa de um tecido de suporte. O empreendedorismo é criminoso, porque tem estimulado perversões", acrescentando que "os estímulos deste tipo podem acabar por ser um convite ao chico-espertismo".
O cientista manifesta ainda "muito medo de que aguentemos menos do que aquilo que as pessoas pensam", quando questionado sobre a capacidade de resistência do País ao desinvestimento na ciência.