Na conferência "O jornalismo (que temos) é útil à democracia?", no âmbito dos 40 anos do semanário Expresso, Rui Rio reiterou um discurso muito crítico sobre a atuação da comunicação social em Portugal, dando o exemplo do dia de hoje em que saíram notícias sobre ele que diz não serem verdade.
"Tem a comunicação social cumprido essa sua função de informar bem e com isenção os cidadãos? (...) Eu direi que por acaso. (...) Não estou a dizer que não cumpre, estou a dizer que cumpre por acaso, ou seja, tem outras obediências e quando obedece a essas outras obediências lá vai também cumprindo a informação", disse.
Rio considera que o jornalismo "cumpre o seu papel" mas "não cumpre o seu papel da forma como devia" e por isso tem "sido também um dos responsáveis da degradação do regime democrático em Portugal".
Na opinião de Rio, "a prioridade da comunicação não é social mas é acima de tudo do que vende", considerando que "aquilo que é a realidade muitas vezes fica afastado daquilo que é a preocupação do microcosmos jornalístico político".
O ex-presidente da Câmara do Porto disse que as eleições autárquicas no Porto são "um bom exemplo" e que "a sentença" de 2001, 2005 e 2013 "não teve nada a ver com a realidade".
"Há na sua atuação, muitas vezes, um claro défice de qualidade e de rigor na forma como as notícias são feitas. É assim que aparecerem títulos enganadores para vender e títulos enganadores para ser parcial, para beneficiar alguém ou prejudicar alguém", criticou.
Rio foi mais longe e deu um exemplo de "parcialidade fantástica" do Jornal de Notícias nas últimas eleições autárquicas no Porto.
"Coisa só vista no tempo do PREC. Como é que é possível fazer a coisa tão mal, tão mal, tão mal que deu uma ajudazinha ao Dr. Rui Moreira porque foi demasiadamente mal feito. Não exatamente os últimos 15 dias mas durante para aí dois ou três anos a tentar vender aquilo que lhes interessava", atirou.
O social-democrata condenou os "frequentes atropelos aos direitos básicos dos cidadãos", afirmando "é tão inadmissível fazer isso a Leonor Beleza como a José Sócrates" e que "uma coisa é dar as notícias outra coisa é fazer perseguição às pessoas e fazer o julgamento na praça pública".
Para Rui Rio, "é manifestamente inconstitucional" agredir a integridade moral, o bom nome, a imagem, a reserva da intimidade, considerando que isto "é violado muitas vezes".
"A conjugação de algum défice de seriedade profissional com constrangimentos financeiros do próprio jornalista ou das empresas que os detêm leva aqueles fenómenos fantásticos de por exemplo uma câmara municipal mete lá 50, 100, 200, 300, 400 mil - até já ouvi 500 mil - e depois de entrar no jornal essa publicidade, saem de lá notícias fantásticas sobre o presidente da câmara", exemplificou ainda.
Para o antigo deputado do PSD existe um "quadro favorável" a esta situação que passa por "uma certa impunidade que vai havendo" em relação aos jornalistas, que acaba por redundar "numa certa arrogância".
"Quando alguém faz uma crítica à comunicação social, é de uma agressividade contra às pessoas, é uma coisa do outro mundo. No meu caso concreto chego mesmo a conviver mal com a democracia quando critico a comunicação social", sublinhou.