Começando por sublinhar que houve “uma mudança significativa do discurso do primeiro-ministro, neste caso como presidente do PSD, perante a necessidade de termos ou não o PS envolvido” numa estratégia para o pós-troika, o antigo ministro Teixeira dos Santos comentou, ontem, no programa ‘Contra Corrente’ do Etv, que isto é uma “jogada política” e um “interessante jogo político” do líder ‘laranja’.
“Ainda há poucas semanas [Passos Coelho] dizia que não precisava do PS para um programa cautelar” mas agora “vem dizer que precisamos de um empenhamento redobrado num acordo”, lembrou o ex-governante.
Na opinião de Texeira dos Santos o que acontece é que “há um ou dois meses era muito claro que iriamos acabar o programa em maio e teríamos que ter um programa cautelar”, para o qual “sendo desejável, não é formalmente necessário” um acordo com o PS, mas agora “perante este alívio da pressão dos mercados que se está a viver nestas semanas, o Governo está a perspetivar uma saída limpa do programa, à irlandesa. E para isso será muito importante um entendimento com o PS”.
A posição de Passos Coelho tem, por isso, na opinião do ex-governante, uma dupla função. “Se se concretizar um entendimento com o PS, isso será efetivamente um fator de reforço da confiança dos mercados que poderá ajudar a uma saída limpa do programa”, por outro lado, “dá um argumento justificativo ao Governo” que poderá argumentar que “’se não tivermos uma saída limpa, a culpa é do PS’. Esta” é portanto, “uma jogada política que procura colocar o PS sobre uma grande pressão”, conclui.
Trata-se de um “interessante jogo político”, observou Teixeira dos Santos, que tem como objetivo retirar margem de oposição ao PS para as europeias. "Á medida que o tempo vai decorrendo a janela de oportunidade para entendimentos desta natureza vai-se estreitando. Tenho muitas dúvidas que nesta fase do ciclo eleitoral haja efetiva vontade de parte a parte em concretizar um acordo significativo e em matérias importantes como são estas a nível orçamental”, sustentou.