O jornal i publica na edição desta fim de semana uma grande entrevista ao ex-ministro Bagão Félix, na qual começa por salientar que “apesar de tudo” é necessário “reconhecer que há alguma mudança com significado nas variáveis macroeconómicas, quer ao nível da produção, quer ao nível do emprego, quer ao nível da confiança. Para isso terá contribuído significativamente o ambiente de maior estabilidade monetária e de maior consolidação das economias com as quais temos relações mais fortes, designadamente na zona euro”.
Mas, sublinha, “continuo a insistir na mesma tecla: os fins não justificam todos os meios (…) há uma excessiva concentração no painel dos sacrificados, de uma maneira que me parece excessivamente árida do ponto de vista humano”.
Bagão Félix considera, porém, que “a situação [do País] melhorou porque tinha de melhorar” e esclarece a sua afirmação recorrendo a uma analogia: “Há aqui um certo efeito mecânico, como quando um avião entra num poço de ar: cai brutalmente, as pessoas assustam-se imenso, mas depois volta a ganhar estabilidade, embora a menos pés”. É o que, afirma, está a acontecer: “as pessoas também vão retomando a sua vida, embora noutra escala - o que não é necessariamente negativo”.
Questionado pelo jornal i sobre o porquê de ser tão critico da Contribuição Extraordinária de Solidariedade, vulgar CES, o ex-governante advoga que “o Governo nunca explica as medidas que toma”.
“Podia ao menos dizer que a CES é assim e acaba no ano X para as pessoas poderem gerir expectativas. Mas o Governo gosta de insistir no erro relativamente ao Tribunal Constitucional e tende a mudar apenas o papel de embrulho [porque] as medidas são as mesmas. Isso denota, além do mais, falta de consideração pelos outros órgãos de soberania”, nota.
A juntar a isso, destaca Bagão Félix, "para o Governo é tudo matemática orçamental, as pessoas não contam. Depois a peças não encaixam, porque são tudo medidas pontuais, não há visão de conjunto. E esta maneira de querer enganar os pensionistas, como se fossem uns tolinhos, não é a melhor maneira de fazer política".
Nesta entrevista ao jornal i, o antigo ministro das Finanças alerta ainda para o “desemprego de longa duração (pessoas desempregadas há mais de um ano)” que “aumentou de 55% do total para perto de 65%”. Significa que “as pessoas que perderam emprego há mais tempo têm cada vez menos probabilidade de voltar ao mercado de trabalho”.
“E aqui estaria uma boa discussão, política, técnica e social, que é a divergência entre cada vez mais desempregados de longa duração numa altura em que o Governo encurtou o período de proteção de subsídio de desemprego para estas pessoas. Entramos no buraco negro social. Infelizmente, entre Miró, praxes e outras coisas, a discussão não se faz”, remata.