"Passos sabe que valor da sua palavra é nulo mas isso não o preocupa"

O historiador e comentador político, Pacheco Pereira, comenta este sábado, num artigo que assina no jornal Público, o episódio entre o Bloco de Esquerda e o primeiro-ministro que marcou o debate quinzenal da passada semana, frisando que “Passos Coelho sabe muito bem que o valor da sua palavra não vale é nulo” mas “isso não o preocupa”. Pacheco Pereira considera, aliás, que “isso deve-se” ao facto de “o Governo e o primeiro-ministro acharem que dar explicações (…) é um desperdício de tempo".

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Ana Lemos
08/03/2014 09:27 ‧ 08/03/2014 por Ana Lemos

Política

Pacheco Pereira

No artigo que, este sábado, o social-democrata e comentador político Pacheco Pereira assina, como habitualmente, no jornal Público, a questão predominante é “o valor da palavra” e se ele, o valor, “muda conforme os destinatários e conforme as circunstâncias”.

Em causa está, explica o autor do texto, “a acusação ao primeiro-ministro” feita na passada quarta-feira pela bloquista Catarina Martins, durante o debate quinzenal, “de que a sua palavra”, leia-se do chefe do Governo, “não valia nada”. Na opinião de Pacheco Pereira, “mais do que “indignação” esta situação provocou “um surto de irritação”.

Mas, “na verdade, a começar pelo próprio, ele sabe muito bem que o valor da sua palavra é nulo, e isso não o preocupa muito, não porque seja ‘mau’, mas porque o ‘valor da palavra’ remete para um conjunto de valores que ele e a sua geração acham antiquados e arqueológicos”.

Como exemplo, Pacheco Pereira recupera “o caso do ‘temporário’/’definitivo’ dos cortes” para provar “como a ‘palavra’, no sentido de uma afirmação de honra, não tem nenhum valor”. O que acontece, explica, é que “quando [Passos] fala em modo eleitoral, os cortes (desculpem, as ‘poupanças’) são ‘temporários’”, tal como sucede “quando fala em modo constitucional, para o Tribunal Constitucional”, mas “quando fala em modo troika, diz que os cortes são ‘definitivos’”, como “quando entra em modo mercados”.

Não restando dúvidas de que “na conceção do ‘ajustamento’, o Governo está do lado da troika e que tudo fará para que sejam ‘definitivos’. Que valor tem a ‘palavra’, quando ele muda consoante os destinatários e conforme as circunstâncias?”.

Isto deve-se ao facto de “o Governo e o primeiro-ministro acharem que ter de dar explicações sobre esta matéria (cortes) é um desperdício de tempo e têm um infinito desprezo por aqueles que lhes perguntam sobre as suas contradições”.

“No seu entender, ele, o Governo, fará o que tem de fazer, fará o que quer fazer e, como tem o poder, a faca e o queijo na mão, nem sequer se preocupa muito em disfarçar”, remata Pacheco Pereira.

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