“Portugal não tem solução. O PSD dirigindo a austeridade e o PS, na oposição criticando muitas vezes, sem alternativa. Eu não ouvi uma palavra de António José Seguro que seja de qualquer alternativa ou de qualquer solução”, afirmou Francisco Louçã relativamente ao atual momento político vivido em Portugal.
Neste âmbito, o antigo responsável do Bloco de Esquerda, afirma que faltam em Portugal propostas convincentes no âmbito do setor mais à esquerda do Parlamento, pelo que deixa antever que, para breve, não antevê qualquer alternativa política à governação 'bipartida' entre PSD e PS.
“A esquerda tem trabalhado pouco para apresentar propostas governativas consistentes. Isso implica respostas políticas que ganham a confiança das pessoas e que sejam soluções. Durante muito tempo, a política portuguesa tem andado à volta de fantasmas, à volta de uma hipótese miraculosa que seria converter o PSD a uma política social ou converter o PS a uma política popular”, atirou nesta entrevista à Antena1 e Diário Económico relativamente a este tema, alicerçando a sua opinião com o vínculo dos socialistas à certos pontos das políticas seguidas nos últimos anos.
“Pensar que o PS pode querer alterar as PPP, quando faz parte delas, ou pode querer alterar as rendas financeiras é procurar um quarto milagre de Fátima”, concluiu, acrescentando que “em Portugal, havia para o Governo, para o PSD e CDS, todas as vantagens eleitorais em fazer o discurso que vão fazer agora: que Portugal saiu do protetorado”.
Instado a responder sobre como via o financiamento da República agora que já se conhece a escolha por uma 'saída limpa', Louçã tem algumas dúvidas sobre como vai ser garantido o financiamento necessário para garantir as necessidades da economia portuguesa, agora que, segundo o mesmo, os investidores procuram cada vez mais os títulos de tesouro com elevadas garantias de pagamento.
“A dificuldade é saber se vai manter-se o fluxo de capitais que resulta do desinteresse por aplicações financeiras nos países emergentes e que procura agora títulos mais garantidos como aqueles que são emitidos por Estados soberanos na Europa”, disse a este propósito.
Para Louçã, o principal problema da economia portuguesa é o elevado índice de dívida pública, pelo que para o fundador do Bloco de Esquerda para melhorar a condição dos portugueses seria necessária uma reestruturação da mesma.
“É um problema de sustentabilidade da dívida pública. Se Portugal tem uma dívida de 129% do PIB de dívida pública, se terá que fazer amortizações sucessivas nos próximos anos e se o juro ainda é muito elevado, não tem nenhuma condição de sustentar esta dívida com o crescimento de 1% que poderá ocorrer este ano”, acrescenta relativamente à dificuldade potencial que Portugal poderá ter para se financiar nos mercados internacionais”, atirou justificando a sua opinião.
“Se a reestruturação da dívida permitir que o défice da balança de rendimentos desapareça, ou seja que Portugal deixa de pagar pelo menos cinco mil milhões de euros em juros por cada ano, então passamos a ter uma balança sustentável e deixamos de precisar de financiamento externo. (…) A única reestruturação da dívida coerente é aquela que conduza Portugal a não precisar de mais financiamento externo”, referiu a propósito do manifesto apresentado por 74 personalidades e onde se pedia, precisamente, a reestruturação da dívida portuguesa.
“A União Europeia tem falhado a Portugal e tem falhado à Europa. Esta Comissão Europeia com Durão Barroso fracassou porque não teve capacidade de gestão de crise. (…) A UE é um projeto que está a fracassar porque não responde às pessoas, não responde aos problemas e não respeita a soberania dos países”, afirmou o antigo líder bloquista relativamente à posição dos responsáveis europeus face a Portugal e avaliação de forma implícita a prestação de Durão Barroso à frente da Comissão Europeia.
Sobre o DEO, pensões e segurança social, Francisco Louçã continua a toada de críticas ao Governo, afirmando que o documento apresentado pela ministra das Finanças a passada semana tem como intuito tornar alguns cortes permanentes, centrando depois o problema de sustentabilidade do Sistema Social português nas elevadas taxas de desemprego verificadas recentemente.
“O DEO é incompreensível. Foi um jogo com o Tribunal Constitucional. Pretende evitar a inconstitucionalidade das medidas deste ano, garantindo que elas são substituídas por medidas definitivas sobre o conjunto da população”, explicou Louçã, acrescentando ainda que “existe um problema demográfico. [Mas] o problema maior não é o aumento da esperança de vida, pelo qual a civilização lutou. O problema que mais pesa é o desemprego. O que reduz o financiamento da Segurança Social é o desemprego”, concluindo depois que dado o elevado número de famílias sem emprego é difícil fazer com que estas tenham filhos.