“Enquanto os partidos forem meros portadores de mentiras, mais ou menos disfarçadas, não há mobilização que valha a pena. Não é possível. A verdade da nossa situação não é conhecida. Caminhamos para uma crise financeira muito grave”, atirou Medina Carreira, antes de afirmar que será necessário proceder, no futuro, a mais cortes na despesa.
Mas, se nos últimos anos se tem culpado a crise económica a nível internacional, o comentador considera o problema de um modo diferente. “A responsabilidade do que estamos a viver agora é nossa”, atirou.
Sobre a situação atual é claro e sem rodeios faz um exame ao clima económico. “Os impostos estão a bater no teto. Não podemos pedir dinheiro emprestado. Não podemos combater as despesas porque o Tribunal Constitucional ainda não percebeu o que se passa. O país está completamente bloqueado”, explica e diz que não houve nos últimos anos quem dissesse “não se pode gastar mais”.
“As oposições deviam criticar e dizer: não gastem tanto. Nunca ouvi ninguém dizer ‘não gastem’. Em Portugal pensa-se que o dinheiro não tem limites. Não há um deputado, um Presidente da República, ninguém, que se atreva a dizer que não há dinheiro”, afirmou em tom incomodado, explicando depois que “estamos num estado caótico e há pessoas que dizem que estamos no Estado mínimo. Não temos dinheiro para o Estado Social que temos e infelizmente vai ter de ser reduzido”.
Numa crítica velada a todo o sistema político, o antigo governante afirmou ainda que temos tido decisores de baixa qualidade e para demonstrar a incoerência da política seguida até aqui dá um exemplo concreto: “Temos duas autoestradas Lisboa-Porto. Chegámos a pensar numa terceira. Isso cabe na cabeça de alguém que seja responsável?”, questionou. A resposta não tardou: “É uma coisa de doidos. Nós falimos e não foi por causa da crise internacional. Gastámos o que tinha e não tínhamos”.
“Estamos a caminhar para um presidencialismo à força. Já tivemos um autoritarismo da troika. Temos de cortar 10 mil milhões de euros ou daqui a dois ou três anos temos para aí sarilho grosso”, explicou por fim.
Sobre as primárias socialistas, que culminaram com uma vitória de António Costa, disse que o ex-ministro que o PS saiu a ganhar, mas faltam responder questões centrais. “Em abstrato acho que o PS ganhou. Parece-me que este candidato tem mais capacidades para a função. A substituição parece-me que foi benéfica”, opinou sobre este tema.
Porém, em tom de advertência, considerou Medina Carreira que “em Portugal, nenhum Governo vai ter qualquer utilidade se a sociedade não perceber que temos de olhar para o dinheiro que existe. Qualquer Governo que vá para lá aumentar umas pensões ou que quer que seja não vai durar muito tempo”, finalizou.