Saída "complicada" do Governo por Durão não é esquecida

O ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros considera que Portugal beneficiou do facto de Durão Barroso ter sido presidente da Comissão Europeia, pela "atenção" dada ao país, sem esquecer todavia a crise provocada pela sua saída súbita do cargo de primeiro-ministro.

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Lusa
28/10/2014 10:06 ‧ 28/10/2014 por Lusa

Política

Durão Barroso

Em declarações à Agência Lusa, Rui Machete, instado a fazer um balanço dos 10 anos de mandatos de José Manuel Durão Barroso à frente do executivo comunitário, considerou que "há que distinguir duas coisas", a forma como o antigo primeiro-ministro saiu de Lisboa rumo a Bruxelas, no verão de 2004, e o trabalho feito ao longo dos últimos 10 anos na Comissão Europeia.

Quanto ao papel de Durão Barroso enquanto presidente da Comissão, considera que, embora o tenha desempenhado "com a imparcialidade que o cargo impunha", Portugal "não deixou de beneficiar", pela atenção dada; já quanto à forma como saiu de Lisboa para rumar a Bruxelas, admite que a "rutura, tal como foi feita", teve consequências para o país, provocando um período "complicado.

"O presidente Barroso, quando escolheu ser presidente da Comissão e, portanto, teve que ser substituído na presidência do governo português, a opinião pública, ou uma parte importante da opinião pública, não acolheu isso muito bem, nem os partidos políticos, e é discutível que essa rutura, tal como foi feita, não tenha tido algumas consequências nesse momento, designadamente porque houve um governo de substituição imediata e teve um percurso complicado", recordou.

No entanto, sustentou, há que "distinguir entre o problema da política interna e das questões internas, quando (Durão Barroso) deixou de ser primeiro-ministro", e "aquilo que foi o seu comportamento como presidente da Comissão" Europeia, e que julga ter tido "aspetos bastante positivos", embora tenha "havido erros com certeza", o que considera absolutamente natural dado a "situação tão difícil que a UE e a economia europeia atravessaram".

"Se olharmos sem paixão, o que é difícil nestas matérias, temos que reconhecer que ele teve um comportamento que, pela atenção prestada e soluções que ajudou a criar, foi positivo para o país (...) Embora, naturalmente, mantivesse a imparcialidade que o cargo opunha, Portugal não deixou de beneficiar pela atenção que noutras circunstâncias provavelmente não teria sido dada ao problema português", considerou.

"Não estou a dizer que as soluções colhidas resultassem de qualquer parcialidade, mas a atenção foi muito importante. Acho, portanto, que nesse aspeto merece o reconhecimento de que se manteve atento à situação portuguesa e ajudou", reforçou.

A nível mais geral, e olhando para os dois mandatos, Rui Machete considera que é justo dizer que José Manuel Durão Barroso "fez um esforço grande para por a Comissão Europeia no centro da política na Europa, o que foi difícil porque a Alemanha estava cada vez mais a ter uma posição preponderante".

"Tentou e, em certa medida, conseguiu (...) que a Comissão Europeia não fosse tão marginalizada como teria sido noutras circunstâncias, e eu acho que isso é crédito dele", disse.

Por outro lado, sublinhou que "a conjuntura não favoreceu" o seu trabalho, e, tendo havido equívocos no combate à crise, "não se pode acusar a Comissão e esquecer os outros".

"O juízo muito negativo que algumas pessoas fazem da 'Comissão Barroso'... eu penso que tem muito de injusto", concluiu.

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