Pedro Passos Coelho falava no debate quinzenal, no parlamento, depois de intervenções feitas pelo presidente do Grupo Parlamentar do PS, Ferro Rodrigues, que acusara o Governo de ser neoliberal, privatizando a TAP - empresa que considerou essencial para a defesa da soberania nacional.
O primeiro-ministro respondeu: "A privatização da TAP, que o dr. António Costa tanto critica hoje, era um dos objetivos inscritos no memorando de entendimento [com a ´troika´]. Era uma privatização da TAP a 100 por cento, veja-se até onde ia o neoliberalismo" em maio de 2011, declarou, recebendo uma prolongada salva de palmas.
Sobre a questão da TAP, o líder parlamentar do PS uma citou a recente posição da Comissão Europeia, a qual, na perspetiva dos socialistas, desmontará um dos principais argumentos do executivo para a privatização total da transportadora aérea nacional ao admitir uma recapitalização pública da empresa, embora "num processo delicado".
"O Governo português tinha a obrigação de levar até ao limite essa tentativa [de recapitalização pública] para que a TAP não venha a cair em mãos estrangeiras, porque isso será mau para o papel do país no mundo. É uma questão de soberania e não apenas de empresas", advertiu Ferro Rodrigues.
Pedro Passos Coelho, porém, demonstrou uma perspetiva distinta da corrente socialista sobre a relação do Estado com as empresas em geral, defendendo em contrapartida uma "economia aberta" e "sem privilégios".
"Disse [Ferro Rodrigues] que o Governo tem um discurso contra a PT e contra o Grupo Espirito Santos (GES), que eram empresas muito importantes em Portugal. Não tenho nada contra a PT, nem contra o GES, mas há uma coisa que discordo do senhor deputado: Durante muitos anos tivemos uma economia muito protegida e numa economia muito protegida é típico que os privilégios estejam concentrados numa meia dúzia", sustentou o líder do executivo.
Pelo contrário, de acordo com Passos Coelho, "quanto mais competitiva e aberta é uma economia, mais oportunidades estão ao alcance de todos".
O primeiro-ministro referiu-se depois em concreto à atual situação da PT, em vias de ser vendida aos franceses da Altice.
Pedro Passos Coelho discordou que os problemas da PT estejam relacionados com a perda da ´golden share' pelo Estado.
"Pelo contrário, sempre que o Estado interveio na PT, interveio mal - e o grande mal que aconteceu depois tem a ver como a forma como a PT foi gerida. Isso deveria convidar o PS a uma reflexão importante, esperando que a conclusão a tirar não seja a mesma do PCP ou de outros partidos de esquerda, no sentido de o Estado voltar a uma posição de privilégio dentro da PT", acrescentou o primeiro-ministro.