Sob o título ‘Portugal não é uma democracia social’, “longe disso”, o histórico socialista Mário Soares recupera esta semana a ideia que defendeu, conforme o próprio lembra, no habitual artigo de opinião que assina às terças no Diário de Notícias.
Tudo porque, defende, “numa democracia social o povo é quem mais ordena. E por isso todos os cidadãos são iguais. Um filho de gente pobre tem direito a estudar, com ou sem dinheiro, se tiver capacidade para isso. E pode e deve ser tratado se estiver doente e precisar de cuidados clínicos e de medicamentos caros”, exemplifica.
Isto foi, considera, o que “aconteceu no pós-25 de Abril de 1974, quando os militares de Abril (...), destruíram o salazarismo” e “entregaram o poder aos civis”. Surgiria depois “a democracia com os três partidos por ordem cronológica: Comunista, Socialista e, depois, o PSD, então PPD fundado por Francisco Sá Carneiro, Pinto Balsemão e outros”.
“Desde então e até ao atual Governo, eleito em junho de 2011, criou-se uma democracia social a sério, na qual participaram os referidos partidos e ainda o Partido Democrata Cristão, que surgiu com Freitas do Amaral e Adelino Amaro da Costa”. Durante esses anos, escreve Soares, “houve muitas mudanças, com coligações, PS e PSD por exemplo, diferentes governos (...) e, depois, presidentes eleitos”. Mas, sublinha, “veio, entretanto, a ser eleito Aníbal Cavaco Silva, membro do partido de Sá Carneiro, depois de ter sido salazarista convicto no tempo da ditadura”.
E, daí em diante “foi um desastre”, tendo Cavaco conseguido a proeza de ser o Presidente da República eleito “mais impopular de todos, (...) com uma popularidade abaixo de zero”. Trata-se, acrescenta o histórico socialista, de “um Presidente que só vê o atual partido no poder dirigido por Pedro Passos Coelho”.
Por isso “não antecipou eleições legislativas” e perpetuou “o desastre de Portugal” e “sobretudo dos portugueses” que, diz Soares, “perderam quase tudo o que tinham conquistado e uma grande parte teve de emigrar”. “Nunca [tal] se viu nos anteriores governos. Portugal como Estado está ultradiminuído e o governo, de uma coligação que não se entende entre si, está absolutamente paralisado e sem saber o que fazer”, conclui Mário Soares.