Por conhecer a personalidade de José Sócrates, pelos casos em que o ex-primeiro-ministro esteve envolvido e pelas pessoas com que se rodeava, a detenção do ex-governante não foi, de todo, uma surpresa para Henrique Neto.
Ao i, o militante do Partido Socialista (PS) disse que, “mais cedo ou mais tarde”, a Justiça haveria de se “interessar pelas decisões que os governos dele [José Sócrates] tomavam”, às quais, a seu ver, “faltava racionalidade”. Para Henrique Neto, esta “opinião vem de antes de Paris”, tendo sido formada quando Sócrates era ainda chefe do Governo.
As críticas dos portugueses à atuação da Justiça no caso de Sócrates são, para Henrique Neto, uma situação “grave porque, dadas as coisas que já foram publicadas – e algumas delas com base naquilo que ele próprio [Sócrates] disse – não é compreensível”.
“Aquilo que ele conta não é normal. Pedir aqueles empréstimos ao amigo, de valor tão elevado, não há nenhuma pessoa que pense que aquilo é normal”, frisou, dizendo, ainda, que “houve negócios e decisões do Estado dificilmente compreensíveis”.
“Fala-se agora muito no grupo Lena, que até é uma empresa relativamente pequena. Os governos do engenheiro Sócrates assinaram negócios muito maiores com outras empresas”, referiu, exemplificando o “negócio” feito com a Mota-Engil para o cais de Alcântara, “uma coisa perfeitamente incompreensível”.
“Ainda hoje há pessoas que adoram o engenheiro Sócrates, que acham que foi o melhor primeiro-ministro português e que o defendem até às últimas consequências. Para mim é muito difícil compreender, mas pronto”, lamentou.
Durante a entrevista, Henrique Neto falou ainda da legião socrática, tendo, aqui, referido que António José Seguro “foi vítima disso mesmo”. “Não era possível apaziguar o grupo de apoiantes de José Sócrates, eram quase religiosos”, sublinhou.
Quanto a António Costa, Henrique Neto mostra-se convicto na vitória, mas acredita que a “herança” deixada pelo ex-primeiro-ministro socialista vai pesar nos votos e poderá ser um “perigo” para o ainda autarca de Lisboa.
Relativamente ao seu voto nas eleições legislativas, o histórico socialista ainda não sabe se votará no partido ‘rosa’ mas, para já, uma coisa é certa: se António Costa continuar sem revelar o seu programa, não votará no PS. “O PS não pode ser eleito sem os portugueses saberem ao que vem”, alertou.