Governo defende a austeridade e não o "interesse nacional"

O deputado socialista João Galamba criticou hoje a postura do Governo português durante as negociações com a Grécia, considerando que o executivo esteve mais interessado em defender as suas políticas de austeridade do que o interesse nacional.

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Lusa
22/02/2015 13:55 ‧ 22/02/2015 por Lusa

Política

João Galamba

"O Governo português, em vez de defender o interesse nacional e o interesse da Europa, esteve mais preocupado em defender os seus próprios interesses e o seu próprio discurso dos últimos três anos. Quem perdeu com isso foi o povo português", afirmou hoje aos jornalistas o deputado do PS.

Segundo João Galamba, "o Governo português esteve durante todo este processo de negociações com a Grécia mais preocupado em impor austeridade aos gregos do que a perceber que uma negociação positiva para os gregos seria também positiva para Portugal e para a Europa".

O político realçou que "a Grécia é o caso extremo da aplicação de austeridade e empobrecimento" e que "essa estratégia falhou na Grécia, como falhou em Portugal".

E acrescentou: "Ontem, Maria Luís Albuquerque [ministra das Finanças] deu uma entrevista em que tentou apagar esta imagem, mas as justificações da ministra não colhem, porque já são demasiadas descrições do que se passou na reunião do Eurogrupo e demasiadas descrições do que foi o comportamento do Governo português nas últimas semanas para que Maria Luís Albuquerque, dê as entrevistas que der, faça as declarações que fizer, possa apagar essa imagem".

Galamba sublinhou que, na sua opinião, "o que não é normal é Portugal, depois de ter ido além da 'troika' [União Europeia, Banco Central Europeu e Fundo Monetário Internacional], como toda a gente sabe, escolha agora ir além do Governo alemão. Isso é que não é aceitável e é mesmo incompreensível".

O deputado socialista vincou que "o que o Governo português dá a entender é que aquilo que mais teme não são políticas erradas, não é o desemprego no seu país, não é a estagnação económica, não é a recessão, mas sim que haja algum Governo que consiga mostrar uma coisa que o Governo português sempre disse que não é possível: existem alternativas, há é que batalhar por elas, e procurar junto dos parceiros europeus uma avaliação realista daquilo que se passou com a aplicação das medidas de austeridade e, se possível, uma alternativa política que funcione".

De acordo com o responsável, "o Governo português não está interessado nisto, a única coisa que está interessado é bloquear toda e qualquer possibilidade de haver uma alternativa", considerando que "isso é muito negativo para Portugal e é muito negativo para a Europa".

E reforçou: "É triste, e indigno até, assistir, depois do que Portugal passou nos últimos anos, depois do que a Grécia passou nos últimos anos, depois do que a Irlanda passou nos últimos anos, aliás, depois do que a Europa passou nos últimos anos com este tipo de políticas, ver o Governo português a defender a sua manutenção e a combater a possibilidade de alterar estas políticas é de facto muito negativo para o país, mas é revelador do Governo que temos e tivemos estes anos".

Galamba fez questão, também, de criticar a posição assumida pela ministra das Finanças portuguesa durante as reuniões do Eurogrupo.

"Tivemos as declarações do ministro Varoufakis, que disse que, por uma questão de educação, não ia comentar publicamente o que tinha feito Maria Luís Albuquerque e, já agora, também o ministro das Finanças espanhol na reunião do Eurogrupo, mas penso que ficou bem claro. Mesmo não dizendo, Varoufakis disse tudo", assinalou.

"E ontem tivemos uma sucessão de grandes jornais internacionais a darem relatos sobre o que se passou no Eurogrupo. Aliás, o jornal Die Welt até diz que Maria Luís Albuquerque pediu pessoalmente a [Wolfgang] Schauble [ministro das Finanças alemão] que fosse muito duro e para que não cedesse aos gregos", destacou o político.

João Galamba considerou que, "felizmente, a linha dura foi derrotada na sexta-feira. Infelizmente, nessa linha dura, encontrava-se o Governo português".

O deputado insistiu ainda que "o Governo português está a tentar a todo o custo garantir a sobrevivência do seu próprio discurso político".

E concluiu: "O Governo português disse que não havia alternativa, que este era o único caminho e, portanto, é natural que veja como uma ameaça um governo e uma negociação que podem mostrar que isso não é assim".

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