No seu habitual comentário dominical, na TVI, Marcelo Rebelo de Sousa criticou a mini-remodelação do Governo, considerando que “podia ter corrido melhor”. E neste sentido, apontou o dedo ao primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho. “Correu mal porque demorou muito tempo a fazer. Que diabo, para mudar seis secretários de Estado em dois ou três dias? Depois foi na praça pública. O primeiro-ministro a comentar a própria remodelação enquanto a fazia e, aliás, o comentário disparatado a dizer que não tinha importância nenhuma. Toda a gente sabe que num Governo com 11 ministros, um secretário de Estado é um ministro. No Ministério da Economia, cada secretário de Estado tem o peso dos antigos ministros”, argumentou.
No que toca à escolha dos novos secretários de Estado, Marcelo considerou que os nomes do lado do CDS foram “bons”, enquanto do lado do PSD existem “dois nomes discutíveis”: A secretária de Estado da Administração Local e da Reforma Administrativa, Ana Rita Gomes Barosa, e o secretário de Estado do Empreendedorismo, Competitividade e Inovação, Franquelim Alves.
“A secretária de Estado de Miguel Relvas: muito competente, óptima gestora do sector bancário, não percebe nada do poder local. Num momento politicamente sensível explicar que ela vai tratar das finanças locais é uma explicação absurda. Ela vai tratar é de fundir as freguesias, de conseguir eleições em Outubro para não haver 500 boicotes”, disse o ex-líder do PSD.
Quanto a Franquelim Alves, que foi secretário de Estado do Governo de Durão Barroso, Marcelo reconhece que “é um homem com uma boa carreira, é indiscutível, conhece bem o sector", mas "tem o problema de ter estado na SLN, accionista do BPN”, explicando que “aquilo que se levantava é que (...) teria tido conhecimento dos factos do Banco Insular, mas não tinha comunicado [as irregularidades] imediatamente”.
Marcelo revelou que telefonou ao novo secretário de Estado a pedir esclarecimentos sobre a sua passagem pela SLN,, tendo ficado convencido com as explicações dadas. “Como não sabia bem, achei que a melhor maneira era pegar no telefone e perguntar-lhe o que se tinha passado. A explicação que me foi dada e me pareceu convencer foi a seguinte: Entrou formalmente em Janeiro de 2008, mas só começou funções em Fevereiro, não tem o pelouro financeiro. A partir de Março e Abril começam a descobrir off-shores e comunicam ao Banco de Portugal. A partir de Maio, têm conhecimento que é o Banco Insular e que há operações estranhas. Há comunicação disso entre Maio e Junho e depois sai logo a seguir. Ainda é convidado por Miguel Cadilhe para ficar, mas sai”, revelou Marcelo.
Perante o coro de críticas da oposição em torno da nomeação de Franquelim, Marcelo defende que o novo governante “deve ir ao Parlamento, à Comissão Parlamentar responder a todas as dúvidas. Quem não deve não teme e isto tem que ser esclarecido”.
Na opinião do conselheiro de Estado, o primeiro-ministro "correu um risco" ao escolher Franquelim. "A mim convenceu-me esta explicação, mas as pessoas ficam na cabeça com esta ideia: BPN. Como é que um Governo inventa um problema, colocando uma pessoa que não tem problema jurídico nenhum, que é honesta, que pelo vistos até comunicou quando tinha de comunicar, mas que está associada politicamente à ideia do BPN?, questionou, considerando que “o primeiro-ministro talvez devesse ter escolhido outro [secretário] que não levantasse o fantasma do BPN, que significa para a maior parte dos portugueses dinheiro a sair dos bolsos”.
Sobre a decisão do Presidente da República, Cavaco Silva, de dar posse a Franquelim Alves, Marcelo foi peremptório: “O Presidente deveria ter levantado a questão se houvesse dúvidas do comportamento jurídico e da honradez da pessoa. Não havendo dúvidas, só tinha que empossar”.