“A carta que anteontem me foi dirigida frusta as expectativas de todos aqueles que contavam com a prossecução das conversas entre o PS, o PSD e o CDS com vista a um entendimento que pudesse garantir a estabilidade e governabilidade”, lê-se na carta escrita pelo líder do PS.
Depois de o Presidente da República, Cavaco Silva, ter pedido uma “solução de governabilidade” para o país a Passos Coelho, as reuniões entre os principais partidos do país deram início mas sem acordo à vista.
“A proposta concreta que fizemos mereceu ostensivo reparo e crítica, mas não encontra resposta objetiva traduzida numa contraproposta, como seria de esperar num interlocutor empenhado num entendimento”, critica Passos.
Numa altura em que as acusações de parte a parte não demoram a chegar, o líder da coligação Portugal à Frente, junto de Paulo Portas, garante ainda que a carta recebida “não faz mais do que repetir a linha que o PS tem usado para evitar esse entendimento com a coligação Portugal à Frente”.
“O facto mais indiscutível e saliente desses resultados nunca é mencionado, a saber, que a coligação venceu inequívoca e expressivamente as eleições, e que o PS as perdeu”, frisa.
Para Pedro Passos Coelho, “é incompreensível que o PS responda às propostas da coligação enunciando exclusiva e exaustivamente medidas do seu próprio programa eleitoral, sem as querer hierarquizar”.
A coligação chegou a apresentar o ‘documento facilitador’ que integrava 23 propostas do programa eleitoral do PS para haver consenso, mas nem assim o PS aceitou.
“De facto, ninguém no país compreenderia que o PS exigisse que a coligação governasse com o programa do PS, o que constituiria uma perversão total dos resultados eleitorais”, refere.
“Ora, não podemos deixar de lamentar que, não só o PS diga em público que essa informação solicitada não tenha sido de todo transmitida, como se constate, além de qualquer dúvida razoável, que o PS não esteja a usar essa informação para aprofundar as negociações, mas apenas para fazer propaganda política com finalidade que estão bem longe das intenções proclamadas (…)”, admite.
O primeiro-ministro escreve ainda que a “disposição para negociar e consensualizar nunca pode estar em acusações mais ou menos falsas, ou em protestos incompreensíveis, mas, sim, nos atos e na sua razoabilidade”.
A conclusão a que Passos chega é que o PS prefere agir com a extrema-esquerda “a negociar com os partidos europeístas, vencedores de duas eleições legislativas consecutivas, ao largo de mais de quatro anos”.
“A coligação mantém a sua inteira disponibilidade para negociar um compromisso para a governabilidade e para a estabilidade, entendendo que só tem sentido que o possa fazer junto daqueles que, como os socialistas, comungam, dos objetivos associados à nossa pertença à União Europeia e ao Euro, (…), e não junto daqueles que assumem valores contraditórios como estes, como é o caso do Bloco de Esquerda e do Partido Comunista Português”, explica.
De forma a chegar a um acordo, a coligação reitera. “Se o Partido Socialista prefere discutir estas matérias enquanto futuro membro de uma coligação de governo mais alargada, que inclua, além do PSD e do CDS, o próprio PS, então que o diga com clareza, já que nunca excluímos essa possibilidade”.
“Mas a coligação não pode deixar de lamentar que, sob o falso pretexto de negociações que não deseja, a ação do PS ameace arrastar o país e os portugueses para a instabilidade e a ingovernabilidade num retrocesso que pode pôr em causa o árduo trabalho nos últimos quatro anos”, remata.