António Costa: Um hábil negociador que chega a primeiro-ministro

António Costa, que completou domingo um ano como secretário-geral do PS e é considerado um hábil negociador político, foi hoje indigitado primeiro-ministro e formará Governo apoiado pela maioria de esquerda no parlamento, depois de uma derrota eleitoral.

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Lusa
24/11/2015 12:45 ‧ 24/11/2015 por Lusa

Política

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Eleito secretário-geral do PS sem oposição em diretas, com cerca de 22700 votos, correspondentes a 96%, a 22 de novembro de 2014, António Costa definiu desde o início do seu mandato como objetivos estratégicos uma vitória com maioria absoluta nas legislativas, a recusa de entendimentos com o Governo PSD/CDS e a rejeição do conceito de "arco da governação", que exclui forças como o Bloco de Esquerda e o PCP.

No seu primeiro ano de liderança, no entanto, deparou-se com fatores adversos como os sucessivos episódios relativos à prisão do ex-primeiro-ministro José Sócrates, a que Costa respondeu defendendo uma rigorosa separação entre justiça e política, e um cerrar de fileiras entre os partidos do Governo, PSD e CDS-PP, que se apresentaram às legislativas de 04 de outubro unidos na coligação "Portugal à Frente" (PaF).

Nas eleições legislativas, a coligação PSD/CDS-PP venceu sem maioria absoluta com cerca de 38% dos votos, contra 32% do PS. Apesar da derrota eleitoral, António Costa não se demitiu das funções de secretário-geral.

Nas semanas seguintes, em vez de ser alvo de uma vaga de contestação interna no PS, o líder socialista tornou-se figura central da vida política ao envolver-se em negociações para a formação de um novo Governo, quer com a coligação PSD/CDS, quer com o Bloco de Esquerda, PCP e "Os Verdes".

Ao fim de duas reuniões, PS e coligação PSD/CDS romperam as negociações. Três semanas depois dessa rutura com a "direita", António Costa anunciou ter chegado a acordo com o Bloco de Esquerda, PCP e PEV para a formação de um Governo de iniciativa socialista.

Presidente da Câmara Municipal de Lisboa entre julho de 2007 e abril de 2015, António Costa deu o primeiro passo para chegar à liderança do PS ao vencer o seu antecessor, António José Seguro, em eleições primárias - as primeiras abertas a simpatizantes - realizadas em setembro de 2014, sendo então designado candidato socialista a primeiro-ministro.

Antes, tinha recusado suceder a José Sócrates em junho de 2011, na sequência da derrota dos socialistas nas eleições legislativas de junho desse ano, mas esteve à beira de se candidatar à liderança do seu partido no início de 2013, acabando por recuar.

Apontado com frequência há mais de uma década como potencial líder do PS, o ex-presidente da Câmara de Lisboa decidiu entrar na corrida pela liderança depois das eleições europeias de maio de 2014, argumentando que "à derrota histórica da coligação PSD/CDS não correspondeu uma vitória do PS com idêntica dimensão".

"Uma vitória por poucochinho", disse, numa crítica a António José Seguro.

Apesar de ter sido apoiado pelas principais figuras históricas socialistas, caso dos ex-presidentes da República Mário Soares e Jorge Sampaio, Costa teve de suportar três meses e meio de intenso conflito aberto com os apoiantes de Seguro, período em relação ao qual confessou publicamente ter aprendido "uma grande lição", designadamente sobre manobras estatutárias e violência de debate.

Filho da jornalista Maria Antónia Palla e do escritor e técnico de publicidade Orlando Costa, goês e militante do PCP, António Luís Santos da Costa nasceu em Lisboa, a 17 de julho de 1961.

Aos dez anos, com o pseudónimo "Babuch" (menino, em dialeto concani, de Goa), já escrevia críticas de televisão para Século Ilustrado e conta que decidiu ser socialista aos 12 anos. Foi também com essa idade que a personagem de policiais Perry Mason o "convenceu" a tornar-se advogado.

Aos 14 anos inscreveu-se na Juventude Socialista (JS), estrutura em que iniciou uma atividade política sempre acompanhada de perto pelo atual alto comissário das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), António Guterres, ganhando especial notoriedade no movimento académico e ao dinamizar a Convenção da Esquerda Democrática em 1985.

Licenciado em Ciências Jurídico-Políticas pela Faculdade de Direito de Lisboa e com uma pós-graduação em Estudos Europeus pela Universidade Católica, o político com quem Mário Soares disse mais se identificar "enquanto jovem" esteve a partir de meados da década de 80 ligado ao sampaísmo, do qual se distanciou apenas nos governos de Guterres.

António Costa estagiou no escritório de advogados de Jorge Sampaio, chegou à direção nacional do PS em 1986 pela sua mão, integrando uma equipa chefiada por Vítor Constâncio, apoiou sempre Sampaio para a liderança do partido, e foi o seu diretor de campanha nas presidenciais de 1996.

Ministro dos Assuntos Parlamentares e da Justiça nos dois governos liderados por Guterres, Costa continuou a ser um dos principais rostos dos socialistas a partir de 2002, ficando à frente da bancada socialista no parlamento, durante a liderança de Ferro Rodrigues.

Em 2004 candidatou-se ao Parlamento Europeu em segundo lugar da lista do PS, numa eleição em que os socialistas conseguiram maioria absoluta em mandatos, mas em que o cabeça de lista, o antigo ministro das Finanças Sousa Franco, faleceu em plena campanha, após incidentes entre socialistas na lota de Matosinhos.

Com José Sócrates como líder do primeiro Governo socialista de maioria absoluta, Costa foi o "número dois" desse executivo, desempenhando as funções de ministro de Estado e da Administração Interna.

Benfiquista, agnóstico, casado e com dois filhos, António Costa é definido como um político seguro de si, irrequieto, persistente e temperamental.

Dá murros na mesa e eleva a voz nas discussões mais acesas e é elogiado pela habilidade política e capacidade de negociação.

Outros chamam-lhe "manobrador e maquiavélico" e chegam a compará-lo ao russo Rasputine, pelo prazer que lhe dão os jogos de bastidores, imagem que se acentua quando confessa a sua admiração pelo ex-presidente do PSD Marcelo Rebelo de Sousa, de quem foi aluno.

António Costa aponta como modelos os antigos governantes Churchill e Gorbatchov, "por terem introduzido grandes e importantes mudanças no século XX", bem como o antigo-primeiro-ministro francês Michel Rocard, este último "pela capacidade de renovação das ideias socialistas".

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