De Sérgio Godinho ao Simplex, Costa chama primeiro-ministro a Passos

António Costa escolheu a modernização do Estado como tema para o debate quinzenal desta sexta-feira, que conta com a sua presença. No discurso de abertura houve um lapso que não passou despercebido a ninguém: Por duas vezes chamou "senhor primeiro-ministro" a Pedro Passos Coelho.

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Pedro Filipe Pina com Lusa
29/01/2016 10:28 ‧ 29/01/2016 por Pedro Filipe Pina com Lusa

Política

Parlamento

Foi citando Sérgio Godinho que António Costa deu o ‘tiro de partida’ para o debate quinzenal desta sexta-feira, na Assembleia da República, dedicado à modernização do Estado.

“Em 1974, Sérgio Godinho cantou ‘que a sede de uma espera só se estanque na torrente’. Este Governo e a atual maioria parlamentar perceberam bem a urgência que os portugueses sentiam relativamente à recuperação dos seus rendimentos, à correção da asfixia fiscal e à redução das desigualdades”, afirmou o primeiro-ministro.

O verso escolhido, note-se, pertence a ‘Liberdade’, música muitas vezes lembrada à Esquerda, mas por um outro verso em particular: “só há liberdade a sério quando houver a paz, o pão, habitação, saúde, educação”. Costa, por seu lado, realçou a “torrente” para especificar as medidas que o seu Executivo vai aplicar. A "navegação", essa, será "tranquila" e "com rumo certo".

“Depois destes brutais anos de austeridade, temos de gerir com inteligência a torrente, transformando a sua força em energia”, afirmou, acrescentando que a esta urgência, sentida no início deste ano, junta-se ainda a necessidade de “começar a preparação do futuro”, algo que Costa liga ao desenvolvimento, assente nos “pilares do conhecimento: a cultura, a ciência e a educação”.

“Foram muitos os que nos últimos quatro anos subiram a esta tribuna proclamando a reforma do Estado, ignorando que um Estado moderno não é um Estado mínimo, distante, sem recursos nem competências”, atirou ainda na direção do antigo Governo, a quem aacusou de se dedicar “quase sempre” a algo que “não foi mais do que o exercício de privatização do Estado e alienação das suas funções”.

“Um Estado moderno é um Estado mais simples, inteligente”, defendeu ainda o primeiro-ministro, que adiantou que o “Simplex está agora a ser reconstruído”. E o que podemos esperar do futuro?

Costa recuperou algumas medidas que se têm vindo a conhecer. O Governo conta contratar de jovens qualificados, vinculando-os ao Estado, quer criar um laboratório de inovação.

Serão ainda abertas as “candidaturas de financiamento para iniciativas de âmbito social”, para além de mais dos chamados serviços de proximidade, algo que será feito com a abertura de novos espaços de Loja do Cidadão.

Costa dedicou ainda uma palavra à descentralização, que coloca entre as prioridades do Executivo. “A descentralização é a pedra angular de uma reforma democrática do Estado”, realçou.

"Senhor primeiro-ministro Passos Coelho"

Na sua intervenção, houve um lapso que não passou despercebido a ninguém: Por duas vezes chamou "senhor primeiro-ministro" a Pedro Passos Coelho. Os risos surgiram de imediato, sobretudo por parte da bancada do PSD. E aplausos também.

Na sua intervenção, o presidente do PSD, Pedro Passos Coelho, confrontou o primeiro-ministro com as críticas ao esboço de Orçamento do Estado para 2016, mas antes pediu-lhe que reconhecesse o trabalho do anterior executivo em matéria de modernização administrativa - tema do discurso inicial de António Costa.

"Eu compreendo e respeito a dificuldade que o senhor primeiro-ministro tem em libertar-se dos últimos quatro anos. Há de compreender que o meu dever é governar o dia de hoje com os olhos postos no futuro e não passar o tempo a alimentar consigo um debate sobre o seu passado", respondeu-lhe António Costa.

Em seguida, o chefe do Governo do PS voltou a chamar "senhor primeiro-ministro" ao presidente do PSD, causando ruído no hemiciclo, mas depois corrigiu: "Senhor deputado Pedro Passos Coelho, com toda a cordialidade, convido-o a vir para o presente, porque no presente é muito bem recebido".

"E no presente encontrará um largo futuro. Não fique prisioneiro do passado, porque esta é a altura de virar a página relativamente ao passado", completou António Costa.

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