Foi citando um verso de Sérgio Godinho que António Costa abriu o debate quinzenal desta sexta-feira, dedicado à modernização do Estado. Entre a recuperação do Simplex e anúncio de medidas por parte do primeiro-ministro, o debate ficou marcado por uma ‘gaffe’ de António Costa e pelo clima tenso entre a Esquerda e a Direita nas bancadas do Parlamento.
Ferro Rodrigues, presidente da Assembleia, ouviu protestos por lembrar a Passos Coelho que já tinha ultrapassado o seu tempo. Mas o primeiro momento marcante verificou-se de seguida e em duplicado: por duas vezes, Costa chamou “primeiro-ministro” enquanto respondia a Passos Coelho, antigo detentor do cargo.
O tema era a modernização do Estado mas o esboço de Orçamento para este ano e a carta de Bruxelas com dúvidas colocadas ao ministro das Finanças, Mário Centeno, acabaram por tomar conta do debate.
Passos Coelho recordou a posição da Unidade Técnica de Apoio Orçamental (UTAO), também ela com dúvidas sobre o esboço, para dizer que esta "chamou mesmo à atenção para a violação que só pode ser considerada grave de manipulação de classificação de dados orçamentais". “Irrealismo”, atirou ainda o líder do PSD.
António Costa respondeu que a dúvida passava por classificar medidas como temporárias ou estruturais, acrescentando que esta dúvida partia do Executivo anterior e das informações que, durante os anos de troika, terá prestado a Bruxelas.
À Direita, o CDS insistiu nas críticas, pela voz de Nuno Magalhães. "O senhor estampou-se e, o que é mais grave, vai levar também o país a estampar-se. Isso é que nos preocupa", afirmou. Como conta a Lusa, a metáfora não foi acaso. Foi resposta do líder parlamentar centrista a Costa, que falou do CDS como "o partido dos automobilistas".
Mas nem PS nem António Costa ficaram sozinhas. Se a Direita criticava a Esquerda, a Esquerda criticava a Direita. E a posição do PCP aproximou-se da do PS.
"As preocupações de PSD e CDS têm a ver com outras questões - andou por ai muito contrabando. Durante quatro anos, andaram a dizer aos portugueses que os cortes eram temporários, mas à Comissão Europeia que eram definitivos. Esta manobra ficou agora a descoberto, ficou claro que enganaram os portugueses", criticou Jerónimo de Sousa.
Da parte do Bloco de Esquerda, houve um pequeno ‘desvio’ geográfico, com Catarina Martins a criticar a Comissão Europeia por não ter dito nada sobre o "confiscar de bens dos refugiados" por parte Dinamarca. No entanto, há "rondas de imprensa para atacar o esboço orçamental português".
Sobre o défice, a posição da líder bloquista foi de garantia que, da parte do Bloco, haveria disponibilidade para apoiar o Executivo no cumprimento das metas previstas para o défice. Mas deixou a sua ressalva: "nenhum país tem as contas em ordem quando as pessoas são pobres ou obrigadas a emigrar".