Em declarações à agência Lusa, o ex-candidato presidencial socialista considerou que Bruxelas, no processo negocial em torno do projeto de Orçamento para 2016, está a exercer sobre o Governo português "uma chantagem contra a própria democracia e contra o direito de serem os portugueses a escolher que política querem e quem os deve governar".
"O primeiro-ministro [António Costa] já afirmou que será fiel aos compromissos assumidos. Resta saber se a Comissão Europeia será fiel aos princípios fundadores da Europa e ao respeito pela democracia", afirmou.
Mas o dirigente histórico socialista condenou também a posição crítica assumida na segunda-feira pelo porta-voz e vice-presidente do PSD Marco António Costa sobre as negociações em Bruxelas do projeto de Orçamento para 2016, caraterizando este processo como "uma brincadeira de mau gosto" do Governo do PS.
"Marco António Costa falou como um porta-voz dos que pretendem pôr em causa o Governo e os direitos dos portugueses para repor a austeridade e vacinar a Espanha. Falou como um porta-voz dos que não admitem alternativa e políticas diferentes daquelas que são impostas pela Comissão Europeia", considerou Manuel Alegre.
Alegre repetiu depois uma ideia que já defendera a propósito do último impasse negocial entre a Grécia e as instâncias europeias: "Depois da doutrina Brejnev da soberania limitada, temos agora a doutrina europeia de democracia limitada".
Neste contexto, para o ex-candidato presidencial o Governo português "comprometeu-se a respeitar as regras europeias, mas comprometeu-se também a virar a página da austeridade e a aumentar os rendimentos dos portugueses".
"Parece que Marco António Costa e aqueles de quem é porta-voz querem retomar a mesma política que empobreceu Portugal, que levou ao corte de salários e de pensões, ao enfraquecimento dos valores do trabalho e que pôs em causa a própria soberania nacional", acrescentou Manuel Alegre.