Mário Soares considera que o facto de um Governo ter sido eleito não é uma carta-branca de legitimidade. Aliás, o socialista lembra que “há quem pense que este Governo, anticonstitucional, está a destruir o País, o Estado Social e a democracia, como é evidente, é legítimo porque foi eleito”. No entanto, o antigo chefe de Estado acrescenta que “Hitler e Mussolini também foram eleitos e isso não os impediu de produzir os estragos que são conhecidos”.
No artigo de opinião no Público, Soares prefere chamar dia do desempregado ao Primeiro de Maio, acusando o Executivo de indiferença. Os “ministros, agarrados ao poder, como as lapas às rochas, não podem sair à rua, apesar de rodeados de seguranças, sem serem vaiados”, sublinha o socialista.
“Que pensam o primeiro-ministro e os ministros e secretários de Estado quanto ao futuro? Certamente julgam que vão poder fugir para o estrangeiro, porventura bem providos com o dinheiro que amealharam, enquanto o tiraram ao povo?”, questiona Mário Soares.
Individualmente, os alvos preferidos de Soares são o primeiro-ministro, “o grande demagogo, que cada vez que fala diz coisas diferentes e que tem prometido tudo e o seu contrário, ignorando os milhares de portugueses”, Vítor Gaspar, o desacreditado ministro das Finanças, e o ministro dos Negócios Estrangeiros, Paulo Portas.
“O Paulinho das feiras pensará que é tão responsável ou mais do que os outros ministros do Governo a que pertence, que pode voltar a dar beijinhos às peixeiras e a fazer-lhes promessas?”, diz Soares sobre Portas. E acrescenta: “Julgará que as mulheres dos mercados e das feiras são parvas? E que continuarão a acreditar nele, quando aceitou todas as humilhações que o primeiro-ministro lhe fez e nunca teve coragem para se demitir do Governo? Porque as ameaças são palavras. Não são actos, e, esses, nunca teve coragem de os praticar...”.
Para o antigo chefe de Estado, “o Governo está paralisado há muito tempo. Não tem rumo nem sabe o que quer e o que faz”.