“Este governo está a destruir Portugal. Está a massacrar os portugueses, que vivem mal e têm fome. É preciso acabar com o governo. Ponto final parágrafo”, acrescentando: “E com a austeridade”.
Considerando a austeridade uma “desgraça” e os seus defensores governamentais como “fanáticos” e “neoliberais puros”, Mário Soares disse ainda que o ministro das Finanças deveria demitir-se – “a gente dava palmas”.
Soares falou à comunicação social antes da apresentação do livro “La embajada roja en Lisboa”, de Ignacio Vàzquez Molini, em cerimónia que contou também com a presença do antigo embaixador de Espanha em Portugal, Raul Morodo.
As críticas do antigo Presidente ao governo foram expressas ao justificar a promoção da sessão pública “Libertar Portugal da austeridade”, prevista para quinta-feira, na Aula Magna da Universidade de Lisboa.
Esta reunião, disse Soares, “não é um debate”, contrapondo: “É para que estejam presentes os que consideram que a austeridade vai ser um desastre para Portugal”.
O encontro deverá juntar dirigentes do PS, PCP e Bloco de Esquerda e os líderes da CGTP, Arménio Carlos, e da UGT, Carlos Silva. Estão previstas as presenças de Pacheco Pereira (historiador), Manuel Alegre (ex-candidato presidencial), Boaventura Sousa Santos (sociólogo), Sampaio da Nóvoa (reitor da Universidade de Lisboa), Alberto Costa (antigo ministro da Justiça) e Pilar del Río, viúva de José Saramago.
Admitindo que “gostava de ver um entendimento” à esquerda, remeteu para os partidos e respetivos líderes eventuais avanços na constituição de uma “plataforma de convergência entre a esquerda”.
Soares comentou ainda as suas próprias afirmações, feitas em entrevista ao jornal i, sobre a alegada chantagem ao ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros, Paulo Portas, por causa do negócio dos submarinos.
“Não disse que estava a ser [chantageado]. Disse que é uma hipótese, é uma coisa diferente. Não posso afirmar isso, mas posso dizer porque é que uma vez diz que sim, outra que não?”, relativizou.
Mas acrescentou que “não foi por acaso” que “no dia em que o Dr. Paulo Portas, que é uma pessoa muito inteligente, como toda a gente sabe, diz que vai sair do governo ou está a pensar em sair do governo saem grandes artigos nos jornais a falar dos submarinos”.
Insistindo, questionou: “Porque é que isso aconteceu? Não foi por acaso. Acho que foi uma tentativa… É um pensamento meu, não quer dizer que seja a verdade”.
A propósito de Paulo Portas e da sua reivindicação do ideário democrata-cristão, Soares invocou Sá Carneiro para o opor ao atual PSD.
“O que era Sá Carneiro? Não era por este governo. Não era anti-social-democrata. Era um homem de esquerda, que quis entrar na Internacional Socialista. O que é que isso significa? Significa que estão a trair o ideal de Sá Carneiro”, disse.
“É por isso que dois terços do PSD não estão com o governo. Como ninguém [está]! Quem é que está com o governo? Militares? Não estão. Padres e Igreja? Não estão. Cientistas e universidades? Não estão”, concluiu.