"Benfica podia ter marcado em Munique e pode fazer dois golos na Luz"
Deixou o Benfica no final da época 2009/10, levando a faixa de campeão nacional (a segunda) ao peito. Contudo Quim, agora no Desportivo das Aves, não esqueceu o tempo que passou na Luz. Garante, em entrevista ao Desporto ao Minuto, que guarda boas memórias das ‘águias’ e elogia a equipa atual.
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Desporto Quim
Depois de uma análise à recente prestação do Benfica na Liga dos Campeões, Quim falou das capacidades de Ederson, da sua saída da Luz e ainda do trabalho de Jorge Jesus, naquela que foi a sua época de despedida.
Como viu a prestação do Benfica diante do Bayern Munique no Allianz Arena?
Acho que a equipa esteve muito bem defensivamente. O Benfica tem-nos habituado nos últimos tempos a fazer boas exibições no campeonato português. Têm vencido e naturalmente que estão moralizados. Fazer um jogo como fez, num campo dificilíssimo, contra uma das melhores equipas da Europa... [pausa] Perderam, mas a exibição foi muito boa. Ninguém esperava que o resultado acalentasse algumas esperanças para a segunda mão. 1-0 acho que pode ser ultrapassado. É difícil, mas também ninguém esperava que a diferença no resultado fosse tão curta.
Qual foi o segredo para equilibrar uma partida contra uma equipa que é assumidamente candidata ao título europeu?
É lógico que a qualidade do plantel do Bayern é muito superior, mas dentro de campo é que ele se comprova. E o Benfica provou-o com um plantel que se calhar ninguém esperaria que fosse possível. Se o grupo, com a união de todos, lutar com o mesmo objetivo pode ultrapassar outras coisas como o poderio de uma equipa como é o Bayern Munique.
O Ederson esteve muito bem entre os postes. Mostrou tranquilidade e nunca se deixou desconcentrar pelo ambiente ou com o desenrolar do jogo. Como vê as prestações dele desde que assumiu a titularidade?
O Ederson é jovem, mas tem mostrado uma maturidade muito grande. Jogando num Estádio da Luz, que já não é fácil, e depois jogar no Estádio do Bayern, para ele pareceu normal. Não se passava nada, a tranquilidade que ele demonstra é muito grande para um jovem. No passado o Benfica já teve o Oblak, que tinha o mesmo carisma. Para ele, estar no estádio de um clube mais pequeno ou estar no de um clube como o Bayern, é igual. O objetivo é sempre ajudar a equipa, mentalizado simplesmente na equipa. Não no ambiente ou no estádio. Acho que o Ederson tem mostrado essa mentalidade e todo o valor e isso é ótimo para o Benfica.
Se o Ederson mantiver o nível elevado, acredita que pode roubar o lugar a Júlio César?
Para um guarda-redes que está fora, lesionado, como Júlio César, não é fácil. E acredito que não será fácil para o treinador, numa fase destas, conseguir mudar quando o Júlio estiver pronto. Naturalmente que o estatuto do Júlio é diferente e acredito que irá regressar [à equipa]. Mas o Ederson tem valor e será um guarda-redes de futuro para o Benfica.
Acredito que com o estatuto que o Júlio tem, pela experiência que tem, num plantel jovem como é o do Benfica, será defendido por Rui Vitória. Mas não será fácil porque o Ederson tem mostrado um enorme valor e os resultados têm aparecido. Ele tem ajudado a equipa a conseguir resultados, mas acredito que irá continuar o Júlio, porque tem o estatuto, a maturidade, a experiência que acho que o Benfica necessita.
Jonas é uma baixa muito grande?
Sim, tem sido fundamental, tem feito golos e será uma peça importante que não estará no jogo. Mas o Benfica não pode pensar assim, tem é que pensar no seu grupo. Os onze que entrarem têm de lutar por um objetivo e dedicar-se ao máximo para obter um resultado positivo. Não podem pensar num jogador que marque um golo ou faça uma assistência. Todos têm ter o mesmo objetivo.
No final do jogo com o Bayern Munique, Luís Filipe Vieira deixou uma clara mensagem de união dirigida aos adeptos. Acredita que será possível condicionar o Bayern Munique a nível psicológico com o apoio dos adeptos?
Os jogadores do Bayern estão habituados em estádios cheios. Onde quer que joguem, os estádios estão repletos. Eles estão vacinados contra isso, mas acredito que é possível. No futebol tudo é possível. Toda a gente estava à espera de uma goleada em Munique e não foi assim. O Benfica teve uma, duas, três ocasiões e teve mesmo um penálti que o árbitro não quis assinalar. Poderia ter feito golos em Munique e poderá fazê-los no Estádio da Luz, perante os seus adeptos, que são importantes. O Benfica tem que fazer dois golos e, defensivamente, tem que estar ainda melhor do que esteve em Munique. Possível vai ser, vai ser muito difícil, mas acredito que pode acontecer.
Este Benfica é diferente do Benfica que representou?
Se calhar ninguém esperaria [que o Benfica estivesse tão bem] depois de terem saído jogadores fundamentais. Até pela saída do próprio treinador, que esteve seis anos no Benfica. Foi uma mudança grande, com uma aposta nos jovens, o que não tinha acontecido até então. Esperávamos um Benfica mais frágil. No início, o Rui Vitória chegou algo confuso, mas conseguiu unir o Benfica e os jogadores e integrar jovens que foram adquirindo experiência e confiança. Se calhar, vão render muito dinheiro ao Benfica. Mas acredito que nesta fase não estão a pensar nisso. Estão a pensar fazer um bom campeonato. São jovens com valor e, para muitos, foi uma surpresa a forma como apareceram alguns jogadores, como o Renato Sanches. Como outros em fases distintas [da carreira]. O Jonas e o Júlio César vieram ajudar muito com a sua experiência. Têm feito um campeonato muito bom, no início ninguém esperaria um Benfica tão forte como temos visto, principalmente devido à saída de grandes nomes.
Ficou magoado com forma como saiu do Benfica, num ano em que tinha ajudado o clube a vencer o título cinco anos depois?
Não, de maneira alguma. Só tenho a agradecer, foram seis anos fantásticos. Acabava o contrato, senti que as pessoas da direcção queriam que continuasse, tínhamos sido campeões. Simplesmente o treinador não contava comigo e, como acabava contrato, não quis ficar comigo e escolheu ir buscar outro guarda-redes. Foi assim que aconteceu. Do Benfica não tenho nada a dizer porque me deram coisas boas. É um clube fantástico, foram seis anos fantásticos, onde fui campeão duas vezes. Simplesmente acabava contrato e o treinador não quis que continuasse.
Quim não esqueceu o tempo em que trabalhou com Jorge Jesus e diz que este Sp. Braga é mais forte do que quando jogava no clube.
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