Rússia ameaça Portugal, Kyiv não subestima. Kamov voltam a dar que falar

Rússia promete retaliar contra Portugal e diz que as "medidas serão estudadas em sigilo" e que "toda a gente" ficará a saber quando Moscovo começar a aplicá-las. Eis o ponto de situação da controvérsia.

© Getty Images

País Maria Zakharova Há 21 Horas POR Notícias ao Minuto com Lusa

O envio de seis helicópteros russos de combate a incêndios à Ucrânia pelo Governo português, concluído no início do mês, continua a dar que falar, com novas ameaças por parte de Moscovo.

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Na sexta-feira, o Ministério dos Negócios Estrangeiros da Federação Russa assegurou que haverá "medidas de retaliação" contra Portugal e outros países da União Europeia (UE) pelo envio para a Ucrânia de material de uso militar - como é o caso dos helicópteros Kamov.

"Já anunciámos que encaramos a entrega de [helicópteros] Kamov à Ucrânia como uma medida hostil em relação ao nosso país, medida que faz parte da caminhada dócil e inconsciente de Portugal e de outros países da União Europeia pela trajetória desenhada por Washington", afirmou a representante oficial da diplomacia russa, Maria Zakharova.

A porta-voz indicou que as "medidas de retaliação serão estudadas em sigilo" e que "toda a gente" ficará a saber quando a Rússia começar a aplicá-las.

"Nós lembramo-nos dessas ações aquando da definição das relações bilaterais. Como toda a gente sabe, temos boa memória, apesar de não sermos vingativos", disse Zakharova quando questionada pela agência Lusa sobre o envio para a Ucrânia de seis helicópteros médios Kamov Ka-32A11B portugueses para apoiar Kyiv na luta contra a invasão russa, iniciada em fevereiro de 2022.

Antes, há uma semana, a Rússia já tinha condenado a entrega das aeronaves, falando em "mais um passo hostil em relação" a Moscovo. Segundo a Rússia, o passo demonstra a "quase completa perda de independência política" de Lisboa e contribui para um "maior aprofundamento" da crise nas relações russo-portuguesas.

Moscovo recordou ainda que, apesar da conclusão do processo de transferência dos helicópteros Kamov em setembro deste ano, a decisão política para a sua entrega foi aprovada em outubro de 2022. Nessa ocasião, lembrou, a Rússia criticou o Governo português e sublinhou que Moscovo não tinha dado o seu consentimento para a entrega dos helicópteros, tanto mais que o objetivo da transferência não era o combate a incêndios.

Rússia ameaça Portugal e UE com retaliação por envio de Kamov para Kyiv

O Ministério dos Negócios Estrangeiros da Federação Russa afirmou hoje que haverá "medidas de retaliação" contra Portugal e outros países da União Europeia pelo envio para a Ucrânia de material de uso militar como os helicópteros Kamov.

Lusa | 14:45 - 20/09/2024

Kyiv diz não subestimar ameaças russas a Portugal e agradece apoio

Após as mais recentes declarações de Moscovo, na sexta-feira, o governo ucraniano disse não subestimar as ameaças contra Portugal e outros Estados-membros da UE. "Não quero sobrestimar, mas também não posso subestimar, de qualquer forma, as ameaças da Rússia. São sempre sérias e, se eles ameaçam, eles fazem algo", disse uma fonte ucraniana, quando questionada pela Lusa em Kyiv sobre as declarações da diplomacia russa.

"O que é que eles podem fazer contra os portugueses? Não sou perito nisso, mas talvez em termos económicos, não sei", acrescentou a mesma fonte ucraniana à Lusa.

Ainda assim, os membros do governo da Ucrânia ouvidos pela Lusa na capital ucraniana disseram "valorizar muito" as relações entre Kyiv e Lisboa, falando nas "comunicações frutíferas" entre os dois países desde o início da guerra causada pela invasão russa em fevereiro de 2024.

Kyiv diz não subestimar ameaças russas a Portugal e agradece apoio

O governo ucraniano disse hoje não subestimar as ameaças da Rússia a Portugal e outros Estados-membros da União Europeia (UE) pelo envio para a Ucrânia de material de uso militar como os helicópteros Kamov, agradecendo tal apoio português.

Lusa | 16:11 - 20/09/2024

Como foi o processo?

Recorde-se que foi em outubro de 2022 que a então ministra da Defesa portuguesa, Helena Carreiras, anunciou que Portugal iria enviar para a Ucrânia os seis helicópteros russos de combate a incêndios que estavam sem licença para operar em Portugal, um dos quais inoperacional por ter sofrido um acidente.

Em novembro de 2023, mais de um ano depois do anúncio da cedência à Ucrânia, as aeronaves ainda estavam em Portugal, com o anterior Governo a referir que aguardava da "contraparte ucraniana indicação sobre os próximos passos a adotar" nesse processo.

Agora, o atual Governo concluiu o processo, "após um longo período de incerteza e de negociações".  A doação dos seis helicópteros médios tinha sido solicitada pela Ucrânia a Portugal, ficando decidido que os aparelhos seriam cedidos no estado de conservação em que se encontravam.

Os Kamov foram adquiridos em 2006 pelo Ministério da Administração Interna, então liderado por António Costa.

A Rússia invadiu a Ucrânia com o argumento de proteger as minorias separatistas pró-russas no leste e "desnazificar" o país vizinho, independente desde 1991 - após a desagregação da antiga União Soviética - e que tem vindo a afastar-se do espaço de influência de Moscovo e a aproximar-se da Europa e do Ocidente.

A guerra na Ucrânia já provocou dezenas de milhares de mortos de ambos os lados, e os últimos meses foram marcados por ataques aéreos em grande escala da Rússia contra cidades e infraestruturas ucranianas, ao passo que as forças de Kyiv têm visado alvos em território russo próximos da fronteira e na península da Crimeia, ilegalmente anexada em 2014.

Já no terceiro ano de guerra, as Forças Armadas ucranianas confrontaram-se com falta de soldados e de armamento e munições, apesar das reiteradas promessas de ajuda dos aliados ocidentais, que começaram entretanto a concretizar-se.

Nas últimas semanas, as tropas russas, mais numerosas e mais bem equipadas, prosseguiram o seu avanço na frente oriental, apesar da ofensiva ucraniana na Rússia, na região de Kursk.

As negociações entre as duas partes estão completamente bloqueadas desde a primavera de 2022, com Moscovo a continuar a exigir que a Ucrânia aceite a anexação de uma parte do seu território.

Leia Também: Kyiv diz não subestimar ameaças russas a Portugal e agradece apoio

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